"No frágil bote de pouco mais de dois metros, aquele solitário pescador, de pé, como dedo especado a apontar o infinito, Deus se possível, era a imagem de um condenado contra quem é cometido erro judiciário e, no derradeiro momento de seguir para a expiação sem culpa, inconformado, mas impotente, aponta silenciosamente na direcção do seu impávido juíz; mas também lembrava o poder de um soberano, senhor de um feudo, ao qual arrancava pela força dos braços, da experiência e da sorte, o sacio das bocas ávidas que lhe haviam ficado na pátria distante." (...)
"E daí a pouco, arrumado o «estrafêgo», de vela em cima ou a remadas vigorosas, era vê-lo sumir-se no horizonte por vezes a tais distâncias que nem binóculos categorizados o iam buscar; lá ia, ora sobre águas plácidas ora, a maior parte das vezes, sobre mar revolto, lá ia, em boa ou má hora, à sua sorte, em demanda do seu pesqueiro, numa detecção irreal apenas orientado por um sexto sentido que teimava em pertencer aos eleitos, às primeiras linhas..."
in "30 anos de Pesca do Bacalhau"-Asdrúbal Capote Teiga
2 comentários:
Texto muito bom..como todos os relatos da Faina Maior..o Capitão em causa..tive o previlégio de privar e continuar amiga dos filhos..grande contador de estórias ...quase sempre estórias com direito a ficar na História
Também gostei muito,mas devo referir que o artigo de onde o retirei é bastante extenso e completo,abordando as várias técnicas da faina e a sua evolução.Foi publicado originalmente numa revista que era publicada pela Junta Distrital de Aveiro,de nome "Aveiro e o seu Distrito".Não tive o prazer de conhecer o Capitão,mas fui colega de um Teiga,no liceu José Estevão,possivélmente familiar.
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