terça-feira, 30 de setembro de 2008

"PORTUGAL - Devoradores de Mar"

Tive por estes dias oportunidade de ver um belo livro de fotografia, da autoria de Candy Lopesino, uma espanhola que por cá andou a fotografar-nos. Com excelentes fotografias, feitas quase na totalidade na praia da Torreira e com um trabalho gráfico de grande qualidade.
A editora é espanhola, e pelo que vi aínda há exemplares para venda. Altamente recomendável.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

"Erros meus,má fortuna.."

Este fim-de-semana adivinhava-se fértil em velejadelas, no sábado a regata da "Cenário"e no domingo a do aniversário da Ass. Náutica da Torreira. No sábado, com um dia excepcional e um ventinho cooperante lá fui até ás imediações de Válega, com um proa de recurso mas que cumpriu na perfeição. O sítio da regata tem "pano para mangas"e o cenário é fantástico..pelo menos na maré cheia. A regata correu bem apesar da juventude da mesma, esperemos que a "Cenário" continue a promovê-la, pode ser o início de algo maior e original por estes lados. Um dia magnífico que terminou com um passeio de regresso memorável à marina da Torreira.
No domingo, o dia apresentava-se igualmente solarengo mas mais ventoso, a prometer uma regata animada. De Ovar veio a "Armada dos BJETs" a dar uma animação grande na classe dos Cruzeiros em que o "Planador"ex-Delmar Conde era o principal favorito. Optimists, Darts, Lasers, e claro, nós no "Almagrande"já com o proa habitual e reforçados com o Cândido, comandante do "Casvic", que se juntou a nós para "dar uma forcinha".
Depois de uma largada à maneira e de uma primeira parte da regata em que andávamos lado a lado com o "Planador", seguíamos a fazer uma bela prova, a aproveitar o vento que entretanto tinha crescido um pouco sem ser demais.
Na rondagem da penúltima bóia, depois de uma azelhice aqui do escriba, burrice de todo o tamanho e inqualificável, faço com que o barco vire os pés pela cabeça.
Depois de ver que estavamos todos bem, seguiu-se uma operação de salvamento complicada e que só visto..
Depois de várias e diversificadas tentativas de levar o barco para a borda, lá conseguimos levar avante os nossos intentos. O resto imagina-se... carteiras, telemóveis, sapatos, casacos, chaves dos carros, palamenta supelente..eu estava orgulhoso de mim..sim senhor, lindo serviço!
Lá tirámos a água suficiente para podermos regressar ao cais, e pelo menos não se tinha partido nada, umas arranhadelas na pintura e umas esmocadelas na borda falsa, feitas por um dos barcos intervenientes na ajuda.
Agora é limpar, secar e consertar os estragos, mas como alguém me disse..."Quem anda à chuva molha-se".

domingo, 28 de setembro de 2008

"Nau Portugal"


Mais algumas fotografias da Nau Portugal, retiradas de um velho número do Arquivo do distrito de Aveiro, enviadas por Sérgio Paulo Silva.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

"Boys with toys"



Penúltimo dia de férias, em Agosto passado. A ideia inicial era a de um passeio matinal para os"Vouguistas" da região, fazerem um belo percurso e ganhar apetite para o almoço agendado para o Bico da Murtosa. Viriam alguns da Costa Nova e dois do lado norte da Ria, nós no "Almagrande" e o Helder Ventura no seu "Aventura".
Assim, no dia e às horas marcadas lá nos encontrámos na Marina da Torreira para aparelharmos as embarcações e zarparmos. Mas, em vez de um mar de água encontrámos um mar de lodo que impossibilitava qualquer tentativa de alcançar o canal de navegação. Para nos tirar o resto da vontade, a Sulada em crescente não tardou a trazer também uma chuva pouco convidativa à prática da modalidade.
Depois de umas trocas de telefonemas com as gentes da Costa Nova, que também já tinham posto a ideia de parte, resolvemo-nos apenas pelo almoço.
O vento que tinha começado por ser de Leste de manhã, rodando para Sul ao final desta, fazendo parecer que não daria outro tempo nesse dia, quando terminámos o café já ele estava de Noroeste e o sol brilhava.
Ala que se faz tarde, toca de aparelhar os barquinhos para matar o vício.
Que final de tarde fantástico, maré cheia, aquela luz própria de Setembro e na água dois Vougas e um Sharpie fazendos bordos ao sabor da fantasia. Belo final de férias

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

"O cão andaluz"

"Nas férias, aranjara emprego no Clube Naval, onde cuidava dos barcos trabalhando duramente, manobrando o guincho, passando os motores por água doce, arrumando os reboques na garagem. O presidente do Clube, pai de um seu amigo, tratava-o com simpatia, e mestre Zé, que lhe dava ordens num trato rude, era leal e justo.
Nos dias de folga, aceitava o convite do Hélder e do Juca para uma volta no Andorinha do Clube. O velho barco de madeira, com velas de lona, cortava, como uma lâmina, a água espelhada das manhãs, mostrando-se firme na nortada, enfrentando ondas e rajadas com a segurança de um velho marinheiro.
Fora descobrindo a beleza da ria nos longos bordos em frente a S.Jacinto, espraiando o olhar pelas margens semeadas de pinheiros, que continuavam, num fio verde, até ao bico do Moranzel, atracando no Bar do Francês ou no café da Torreira, para um intervalo de descanso. No regresso, quando o vento caía e o céu se enchia de púrpura em poentes de calmaria, traziam o barco à sirga, puxando-o da margem, arranhando os pés no junco por onde fugiam ratazanas. Nesses dias, quando a sorte lhes sorria, apanhavam boleia da lancha da carreira, com a ajuda dos passageiros que pressionavam o piloto, contrariado, a passar-lhes um cabo de reboque.
Aos poucos, foi-se tornando um conhecedor de ventos e marés, hábil em bolinas e cambadelas, velejador cobiçado como proa nas regatas. E no Verão de 65, no Cruzeiro da Ria, conhecera Elisa Medina. A meio de Agosto."

Jorge Seabra in "O cão andaluz"

terça-feira, 23 de setembro de 2008

"Coisa Amar"

Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar.Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.

Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.

Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como doi

desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.

Manuel Alegre

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

"Ria"

Fotografia que abria o Jornal dos Pescadores na sua edição de Setembro de 1955, com o título "Pesca à taínha na Ria de Aveiro". Foto enviada por João Aldeia.

domingo, 21 de setembro de 2008

"Figueira da Foz - Aveiro"

Ele há dias assim, que prometem e cumprem o que se espera deles. Neste caso, a promessa de um dia agradável foi largamente cumprida e ultrapassada. O convite feito pelo Patrão do "CASVIC" para fazer parte da tripulação na regata Figueira- Aveiro foi como "perguntar ao cego se quer ver.." nas palavras de um ilustre participante. Logo aí a coisa começou a correr bem porque depois de demoradas e complicadas negociações consegui conciliar as minhas obrigações profissionais de maneira a poder estar presente.
A noite da véspera foi passada a bordo, por toda a cabina são aínda visíveis recordações de viagens do antigo proprietário, placas de algumas homenagens que lhe prestaram e que ele, premeditadamente ou não, deixou no barco. Ali fazem mais sentido, um barco com aquele historial deve ostentar os galões.
O dia amanheceu a anunciar chuva e com um ventito Leste que ameaçava desaparecer, e assim foi, depois de uma primeira parte feita a motor até às imediações da linha de largada, quando precisámos dele, ele quase que se recusava a colaborar. A manhã foi assim, vento muito fraco e sempre com tendência a diminuir.
Aproximava-se a hora do almoço e a total ausência de vento levava alguns dos competidores a renunciar à competição e a ligar o motor, enquanto outros aproveitavam para ligar o fogão, anunciando pelo rádio as respectivas ementas e cartas de vinhos..decididamente trata-se bem esta rapaziada da Avela.
Estavamos nós também a tratar do corpo quando, sem avisar, entra um vento simpático de Oeste que ainda fez esvoaçar uns copos e ao que consta, um prato de salada numa das embarcações que mais leva a sério esta questão da alimentação a bordo, a forma como hidratam o corpo é notável!
O vento foi crescendo e até Aveiro foi uma beleza, nem a chuva que entretanto apareceu conseguiu estragar a festa.
Depois de uma entrada na barra sem sobressaltos, os barcos reuniram-se para um desfile e sentida homenagem aos "TALL SHIPS", enormes, majestosos, magníficos.
Os participantes da regata iam passando em comboio, com as tripulações a admirarem estes colossos, buzinando repetidamente, um espectáculo dentro de outro. De repente, sem que alguém esperasse, o nosso "CREOULA" responde-nos na mesma moeda, amplificada à medida do seu tamanho... Lindo!
A caminho da sede da Avela aínda nos cruzámos com um daqueles moliceiros castrados, sem mastro, sem velas e sem ponta da proa, até para ser barco é preciso ter sorte..
Seguiu-se a amarração e barrela das embarcações e quanto a mim, um cafézinho sonhado desde a Figueira.
Claro que os organizadores não deixaram os créditos por mãos alheias e tinham um paladoso jantar para os participantes, comido e bebido com gosto por todos.
Após a entrega de prémios, para alguns o fim de festa, para outros alonga-se a conversa e para outros aínda, é tempo de merecido descanço a pensar já no regresso no dia seguinte à Figueira da Foz. Bela jornada de vela, ao Comandante Cândido e à Inês o meu agradecimento.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

"Ironias do destino"

"Quanto a mim julgo que não se pode sair de borda desde que se vá com atenção. Se nos deslocamentos e nas manobras, houver o cuidado de ter sempre à mão uma coisa a que se agarrar, não creio que um vagalhão obrigue a largá-la. Ao governo, porém, está-se mal escorado. Quando, de repente, o adernamento é grande chega-se a ficar quase na vertical e a cana do leme não é um ponto de apoio. Em muitos barcos até, um grande adernamento brusco pode acompanhar-se de um safanão da cana do leme que pode derrubar-vos. É-se volteado pela cana do leme e cai-se no mar por sotavento. Se se teve a sorte de não largar o leme, pode talvez subir-se para bordo. No caso emergente, é muito mais provável que o larguemos. Nas águas, muitas vezes frigidas, do Atântico Norte, quase que não se deve ter tempo para refletir: morre-se de frio muito rápidamente. Esta perspectiva seduz-me o menos possível confio na volta do tirador da escota bem dada em torno dos meus rins."

Eric Tabarly in "TABARLY- o navegador solitário"

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

"Mar a Preto e Branco"

Excerto de um documentário sobre Augusto Cabrita, intitulado "Mar a Preto e Branco".

terça-feira, 16 de setembro de 2008

"Flamingos na Ria"

Avistei o primeiro grupo há coisa de dois ou três anos, nunca tal tinha visto por estas bandas. Desde aí que se vêem regularmente e cada vez em maior número, não tardará, digo eu, que comecem a engalanar as trelas de alguns aspirantes a caçadores que grassam cada vez mais no nosso país. Daqueles que , confundem caça com selvajaria desenfreada e que não tendo uma rolita ou patito que se atravesse na sua frente, vai de dar fogo em gaivotas, melros, arrancas de pinheiro, sinais de trânsito, janelas e portas dos palheiros que ainda se vão mantendo na ria ou em qualquer outra coisa que dê para aliviar o stress.
Há uns anos atrás, um conhecido caçador da nossa praça foi dar uma voltita pelo campo de Salreu, cruzando-se com um "caçador" que regressava já a casa com um saco volumoso ás costas.
Depois de uma breve troca de palavras pergunta ao ajojado "desportista", "então, matou alguma coisa ..?", "30 bicos.." respondeu displicentemente o outro, abrindo o saco e mostrando orgulhosamente uma sacada de gaivotas e galinhas de água..
Aposto que uma alma destas não enjeitará a possibilidade de fazer um figurão na tasca da terra quando entrar com um ou dois no bornal.
fotos- Joaquim Marques

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

"A Tourada do Mar"



"Uns homens têm na mão direita a ganchorra curta e afiada, presa ao pulso pela alça, e outros, armados de um bicheiro mais comprido, só esperam que o atum comece a saltar para o chegarem aos barcos. Agita-se a água...Vêem-se os grande dorsos reluzentes e os rabos que chapinham... Espetam o peixe. Para não caírem à água, deitam a mão esquerda à corda amarrada ao pau de entrevela, curvam-se e fisgam-nos pela cabeça. O peixe resiste e quer fugir: sentindo-se preso, ergue-se, apoiado na cauda e é esse movimento de recuo que ajuda o homem a metê-lo para dentro da caverna, largando logo da mão o bicheiro, que lhe fica suspenso do pulso pela alça. Baixa-se o homem, ergue-se logo...Os barcos estão cheios de peles luzidias e de manchas gordurosas de sangue. São bichos enormes e escorregadios, de grossa de pele azulada, que batem pancadas sobre pancadas com o rabo. A gritaria aumenta – Eh! Eh!... É uma mixórdia que me cansa. Só vejo manchas sobre manchas, sobrepostas, a cor e o movimento, a cor dos homens, a cor dos grandes peixes que se debatem e morrem e a agitação que se precipita e acelera os gestos confundidos. E sobre tudo isto um grito, um grito de triunfo, o grito de matança que explode numa alegria feroz, a alegria primitiva: - Eh! Eh!... num quadro imutável, todo vermelho e negro... Cheira a açougue. A água tinge-se de sangue, a água pegajosa encharca os barcos. Misturam-se as cores e as peles escorregadias... A carnificina enfarta e enjoa..."

Raúl Brandão in Os Pescadores

terça-feira, 9 de setembro de 2008

"Regata Cenário"

Boa ocasião para tirar o velho Sharpie ou Moth da garagem.
Numa zona menos conhecida e menos frequentada da Ria de Aveiro.
A conhecer..

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

"A Torreira e o S.Paio"

"Se calha tempo bom, céu azul, sol quente, ar levemente agitado, não há passeio fluvial que rivalize com este que se dá na ida para o São Paio.
De Mira ao Furadouro, por toda a orla dessa vasta laguna que é a Ria de Aveiro, seguem de velas enfunadas e enfeitadas com galhardetes, flâmulas, bandeiras e mil variados panos muito garridos - flutuando ao vento, tremeluzindo na água, as cambiantes como em caleidoscópio - centenas e centenas de barcos moliceiros e mercanteis.
Partem de Mira, Costa Nova, Barra, S.Jacinto e Furadouro, modestíssimas praias ribeirinhas, homens e mulheres de todas as idades, pescadores na maioria, que levam os seus trajes domingueiros (heterógeneos, mas curiosos!) e a alma como pura alegria, sã expansividade, para saltar nas areias da Torreira, saltar infantilmente, mas saltar de vontade, rir e cantar e beber à farta, comer um pouco mais e melhor, comer desafogadamente, reinar, gosar a vida no que ela tem de espiritual e material, de poético e prosaico.
De Ílhavo, Aveiro, Estarreja, Murtosa e Ovar acorrem pessoas de todas as classes, que vão ao São Paio para verem a festa e se refastelarem nas areias contemplando a vastidão do Mar e admirando a Ria, sempre com novos encantos, cada vez mais bela!
E é vê-los então, a 7 e 8 de Setembro, encobertos pelas dunas - vulgo, cordeirinhos - ou sobranceiros a elas, como se juntam aos magotes, às rachadas, piturescos e animosos, de corpo e alma, em dilatada alegria, sacrificando o interesse; prestando um culto franco à vida!...
Ali se nota o fervor religioso, o fanatismo dos velhos que algum dia temeram as maleitas - sezões! - e, agora, livres delas, trazem oferendas ao Santo que os agraciou.
Surpreende-se a irreliogisidade dos novos, que tomam a festa como foco de diversões, e dão largas aos instintos mais soêzes, cevando-os em gozo irreverente, maligno, que lhes avilta a alma e arruína o corpo.
Encontram-se, na sua quase pureza nativa, no seu maior encanto, primores de arte rústica, revelada na forma, pintura e dísticos das embarcações, nos cantares do povo, na música das violas, pífaros e harmónios, nas danças regionais, chulas mas admiráveis, dignas da maior atenção, na procissão com os seus anjinhos de face tisnada e pé descalço, e até nas armações do arraial, grosseiras e ao mesmo tempo graciosas.
Tipos curiosíssimos, bêbados, embriagados, toldados de vinho e alegria; almas sentimentais, que, por estranhos mistérios, ficam tristes; tanto mais tristes quanto maior vai a alegria a seu lado; caras singulares, tipo único, mas sem pinturas! - formosas na sua rusticidade, corpo vigoroso de trabalhador, e indumentária velha, antiquíssima, desencantada naquele dia « que será o derradeiro das idas ao São Paio»; fazem desta festa um precioso manancial de motivos artísticos! Mas nem os poetas, nem os amigos do folclore, nem os pintores, nenhuns desses artistas e devotos da arte, tantas vezes tão pobres de originalidade, e tantos outros falhos de valor, somente por falta de imaginação, nem uns nem outros se entregam à exploração de mina tão rica!...
E a Comissão de Turismo, que tanto promete, e tanto poderia fazer, essa também não toma a seu cargo uma propaganda intensa da Ria deAveiro e do São Paio da Torreira, local mais característico e mais belo destes sítios...
Pobreza de iniciativas!...exiguidade de gente esforçada!...mina soberba, que ficará desprezada!
E, contudo, não há do Norte ao Sul, da Espanha ao Mar, praia e arraial mais ricos de originalidade, de mais característicos e mais encantadores do que a Torreira e o São Paio."

Dr. Joaquim Rodrigues da Silva
Retirado do livro "Um santo lavado com vinho"-Sérgio Paulo Silva
Gravura- Zé Penicheiro

sábado, 6 de setembro de 2008

"Romaria dos Pescadores"


"Mas a ria enche-se de asas brancas, garças reais que coalham o azul, além sobre a barra, onde a névoa fumega indecisa e lenta, e do outro lado, sobre Pardelhas, Estarreja, até Ovar bolinando ao vento. É uma verdadeira esquadra, embandeirada em festa, porque hoje é dia de São Paio, na Torreira. Cada barco traz a sua povoação, a sua aldeia, a sua canção, as suas guitarras e adufes. A ria torna-se melodiosa, e sussurra, vibrante nas suas ondas de água, finas como cabelos de mulher, que os ventos represados percutem como uma arcada de violino. Durante muito tempo embala-nos aquela música aquática, dolente e enlanguescedora. As tonalidades mudam. Já não há azul. Os longes tornaram-se brumosos, e a água oleosa, baça, não tem uma vaga, uma crispação. Dir-se-ia um lago imobilizado por um silêncio astral. Um cinzento de agonia envolve esta paisagem de além mundo,prostrada na morte , se o sol não acordar antes da tarde.
Mas sobre a Torreira estralejam os primeiros foguetes da festa com os seus balões brancos que, num jeito de pára-quedas, ficam a pairar no céu, e as canções dos barcos, que já não se ouviam, volta a ecoar numa harmonia de alaúde, sonambúlicas na sua tristeza de ladaínha. Nem no dia de hoje o homem deixou a faina da ria. Ainda tem tempo para ir à sua casa lacustre trocar os farrapos curtidos de salmoura pela véstia negra de festa. À tona d'água vogam os moliceiros, de amura baixa, velas brancas, quadradas muito altas sobre o mastro, a proa subida e recurvada como o pescoço dum cisne, voltado para trás. O seu galbo esbelto, de fina estrutura náutica, que alguns dizem herdado dos Fenícios, mas que seria mais exacto, talvez, atribuir às embarcações dos Vikings, é uma curva aláda, quase imponderável, que não fende as águas, antes desliza desposando as suas formas líquidas, numa subtil perfeição de equilíbrio.
Cada um ostenta à proa, num ingénuo painel pintado de cores álacres, numa rusticidade de ícone, a que não falta o fundo de oiro, um rei coroado, de sumptuoso manto de arminhos, com todos os atributos de majestade. É modelo antigo que a tradição mantém aínda. Mas há variantes. A mais vulgar é um par de noivos com grande legenda de graciosa malícia, que o artista assina.
Dois homens, um à vara e outo ao moliço, este último com dois ancinhos, verdadeiras cravelhas de guitarra que vão rapando o fundo da ria e são levantados, alternadamente, constítuem toda a sua tripulação. Há dezenas, centenas, todos do mesmo tipo, variando, apenas, na pintura da quilha, por vezes recortada da «falca», em largas bandas horizontais, onde o negro é constante, orlando dum almagre que criou ferrugem de oiro.
Mas a ria enche-se, mais e mais, de velas brancas. Parecem as núpcias do mar, que vêm de longe, de Aveiro, no seu labirinto de esteiros, vales e canais, aqui alargando, em golfos de contornada parábola, além mais impetuoso e extenso, quase sem limites terrestres, carreando peixe ou criando-o no seu fundo rico de plâncton."
texto-Artur Portela
gravura-Maluda

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

"Mais coisa menos coisa"

Curiosa fotografia que encontrei nas minhas "navegações" virtuais.
Um tubarão-frade arraçado de "baleia" dá à costa e a comunidade posa para a posteridade.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

"Stromboli"











Há dias, quando vi a fotografia de Artur Pastor sobre a pesca do atum, lembrei-me de um filme que me ficou na retina principalmente por duas razões: a Ingrid Bergman e a cena de pesca.
Ela exalava charme, contenção e uma grande classe. Era nórdica sem ser a Garbo, era portuguesa sem ser a Amália, de mão na anca, em pose crispada.
Vale a pena rever o filme, em finais de verão, em inícios de Outono, é uma verdadeira sonata. O resto é Rossellini.

"Vougas-1948"



Hoje tive uma bela prenda, uma bela surpresa.
Recebi de J. A. Aldeia, estes artigos publicados no "Jornal do Pescador" sobre os campeões nacionais da classe "VOUGA" no ano de 1948. Tem um significado especial para mim porque sou admirador da classe, é um barco fantástico, português, nado e criado na região de Aveiro . Fruto do génio de um homem, António Gordinho, que fez os mais bonitos exemplares, muitos deles ainda a navegar e que serão sempre a bitola pela qual serão ajuízados todos os outros.
Ao João Aldeia o meu agradecimento, bons ventos pró Sesimbra

quarta-feira, 3 de setembro de 2008