quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

"Avieiros"


"Mal entraram no túnel das árvores que enchem as duas margens, apareceu um vento áspero, a sacudir tudo; até assobiava nos troncos e nos ramos. E corria tanto, e assobiava tanto,espantado, quem o espantara?, que as folhas começaram a cair aos cachos, fugindo algumas, juntando-se depois, num torvelinho, indo e regressando num corrupio, que Olinda Carramilo parou de remar e ficou queda no banco, meio tonta, como o Tóino, que já bebera mais de meio garrafão de vinho e ainda não parara de cantar. E num repente, quando o vento garanhão fugiu para a Lezíria à procura das éguas, as folhas que revoluteavam como pintassilgos tontos caíram de chapuz sobre a vala da Casa Branca e deixaram tudo alagado das cores do Outono, um nadinha triste, mas tão sorrateiro, que o Tóino da Vala não se mexeu no fundo do barco. Amarelas, doiradas, vermelhas, quase de fogo, ardidas e ainda ardentes, verdes, cúpricas, verde-cré, verde-montanha, verde-gaio, verde-negro, ocres, castanho-queimado, e vermelhas, acesas, fogaréus a arder, as folhas do arvoredo da vala tombaram, de repente, sobre o corpo do pescador vagabundo e vestiram-no a esmo de todas as cores que havia nesse mês.
Deslumbrada, Olinda Carramilo ergueu os olhos para aquela chuva fantástica que também lhe escorria pelos ombros e engrinaldava a cabeça.
Depois tudo se quedou num grande silêncio, como se as árvores ficassem a ver o que delas fugira com o vento."
Alves Redol in Avieiros
pintura - David Alfaro Siqueiros

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

"Luzito"


"Em 1937 o Governo decidiu apoiar a vela através da criação da Secção de Vela da Mocidade Portuguesa, que estabeleceu o seu primeiro Centro de Vela em Lisboa, seguindo-se depois outros por todo o País e até pelas Colónias. dos quais 16 no Continente e Ilhas Adjacentes.
No começo praticava-se vela nos barcos existentes mas, a seguir, projectou-se e construiu-se um barquinho de iniciação de 2,55m, baseado num exemplar canadiano, o Cap Cod, mas de construção nacional, muito equilibrado, com duas velas, permitindo aos jovens velejadores aprenderem a velejar, a tratar dos barcos, a conhecerem as regras internacionais de regata, etc.
Segundo outros testemunhos, o Lusito, nome do pequeno barco de que estamos a falar, foi construído por iniciativa de Rudolfo Fragoso pelas mãos do velho Brites, famoso na construção de embarcações de recreio, mas tinha características marcadamente nacionais."
Excerto retirado do livro "Vela Olímpica Portuguesa - 75 anos"
Barquinho com que muitos se iniciaram nas lides e de que terão, certamente, boas memórias. O Lusito era bem agradável de tripular, bastante previsível nas reacções e, tanto quanto me é possível recordar, com um comportamento que desculpava as muitas falhas dos petizes.

sábado, 24 de janeiro de 2009

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

"5 do mesmo"









Imagens bucólicas de uma Ria temperamental, capaz de nos pregar algumas partidas. A máquina que outrora fotografou alguma coisa em que o verde era, mais ou menos verde, continua a dar-me uma certa luta. Parece-me que a a máquina vence ao intervalo.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

"Vintage Sailing"

ENDEAVOUR II - Mrs. Phyllis Sopwith at the helm - 1937



ALERA - Larchmont Races - 1920



ELENA and IROLITA -1913



MOUETTE - 1933



TYPHOON - 40 footer - 1931

domingo, 18 de janeiro de 2009

"Clifford W. Ashley"








Clifford W. Ashley -Pintor, ilustrador e fotógrafo.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

"Baleação"

"Está tudo calado e ansioso, ninguém diz palavra inútil: homens, barco, arpoador e arpão, tudo tem o mesmo corpo e a mesma alma. São sete, à caça do monstro. Todos ganham: uma baleia dá muito óleo e o óleo dá muito dinheiro. Às vezes dá âmbar. Já outras canoas de aproximam. Mas, antes que lhe tirem a baleia, o trancador lança o ferro. O bicho tem um momento de hesitação e surpresa, como o touro quando lhe cravam a bandarilhas, o que permite ao barco desviar-se numa remada, antes de ser abafado na cauda ou envolvido no redemoinho das ondas. Não há um segundo de dúvida ou movimento falso. A baleia mergulha entre as vagas, com o risco de os arrastar para o fundo, e leva-os numa velocidade de expresso, pelo mar fora, porque aquela grande massa é de uma agilidade espantosa. E lá vão no curso entre as águas rasgadas, no grande sulco aberto com violência tomando tento na linha. A baleia mergulha. Corre agora linha de manilha americana, muito bem enrolada dentro de duas selhas, e os homens pálidos e imóveis, com o coração do tamanho de uma pulga, esperam. A baleia pode desaparecer durante vinte minutos. Às vezes a linha acaba-se quando a baleia mete muito para o fundo. Se está outro barco perto, fornece-lhe mais linha, senão a baleia perde-se: têm de cortar a manilha ou são arrastados para o abismo. A arça é o fim da linha, e é com pena que eles a vêm acabar-se. Passam a ponta de mão em mão, até ao último tripulante, que só larga com desespero. Mas em geral a baleia mergulha, vem à tona antes que se acabe a linha, e o que ela mostra primeiro é o focinho, para resfolgar. Aproxima-se e dão-lhe uma lançada ao pé da asa para a sangrarem. Mergulha, reaparece, esgotam-na e têm-na certa quando começa a esguichar sangue pelas ventas. "

Excerto retirado do site da Câmara Municipal das Lajes do Pico

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

"Invernias"

" As névoas anunciam o Inverno. Começam a vir os nevoeiros compactos, que se metem pelas narinas e cheiram a mar e a fumo. Há-os que têm léguas de espessura e levam dias a passar, coortes desordenadas de fantasmas enchendo todo o horizonte. O sino tange. Não se vê palmo diante do nariz. Lá fora os barcos, como cegos, só se guiam pelo som. 0 mar é um misterioso fantasma que os envolve. Cerração cada vez mais mole e espessa... Só a voz se ouve, e o lamento parece vir de mais longe e de mais fundo. Às vezes adelgaça-se um pouco na costa, e grandes rolos de fumaceira crescem do mar sobre a terra. É o Inverno que vem aí. A voz imensa tem já plangências de dor – desabar infinito de lágrimas. De sul para o norte as nuvens correm sempre, coortes sobre coortes que saem das profundas e avançam, deslizam sobre as águas sem ruído, enchendo o céu de farrapos enormes, de fantasmas criados naquele mar salgado e que se seguem em tropel num galope monstruoso para uma grande batalha desconhecida. E de quando em quando o sino chama, chama sempre pelos homens perdidos na névoa espessa que leva dias a passar."

Raúl Brandão

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

"Pescadores de Setúbal"

Setúbal - pesca da sardinha, década de 1920.

"Boa Sorte.."




Em Setembro passado, na regata de aniversário da A.N. da Torreira, fui abordado por António Carvalho, homem daqui da borda d'água mas que o curso da vida fez com que fosse viver para o interior. Tinha reconhecido o barco de o ver aqui no blogue, que encontrara enquanto pesquisava sobre os Vougas. Disse-me que estava interessado em fazer uma réplica de um, e se eu não me importava que fosse o meu já que os vários estados de construção estão documentados. Fiquei interessado e curioso mas o tempo passou e nunca mais me lembrei de nada. Há uns dias atrás recebi esta agradável surpresa que me fez relembrar a construção do Almagrande. Estando a ser construído à escala de 1:5 , ficará com 1,26 m.
Depois de ver isto só me resta dar-lhe mais uma vez os parabéns pela habilidade, rigor e paciência que estas coisas requerem.
António, não deixe de ir mostrando os avanços da obra. Bom trabalho e...boa sorte.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

"Pescadores da Murtosa"


"Os campinos de Garrett abateram a prôa, assim que ouviram falar duma luta de oito dias com o mar. Para lhes travar para sempre as campainhas, bondava agarrar-lhes pela jaleca e levá-los ali à Torreira, numa madugada em que o búzio soasse e duas companhas arrancassem para a "recachía".
Os de Ílhavo são peixes de água salgada. Vivem no mar. O comando da nossa marinha mercante está nas mãos deles.
Os da Murtosa, esses não se contentam em ser mareantes. Acham aquilo monótono e, salvo horas naufragantes, luta branda. A pesca, sim, que é movimentada, que pede força, que tira de condição a coragem, que faz preço à audácia, que requere do homem a agilidade da onda e o segredo do ritmo. É a paixão dos murtozeiros. Não é este nem aquel'outro. Observem-nos e verão que aprender um é conhecê-los a todos."
Joaquim Leitão in Pescadores da Murtosa, excerto da Canção do Regresso.
Retirado do livro Murtosa - Fotomemória de Alexandra Farela Ramos

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

"Uma ode aos amigos"


Waiting for the Nighthawks, a tribute to Hopper from Almagrande and his crew.

"Winslow Homer"









Winslow Homer - 1836 / 1910