quinta-feira, 30 de julho de 2009

"Hanuman"


Hanuman - Images by Cory Silken

Para muitos serão os barcos de competição mais bonitos alguma vez construídos, os grandiosos J-Class. Tiveram o seu auje na década de trinta e dos dez magníficos, chegaram até nós apenas dois, o "Shamrock V" e o "Velsheada". Em 1937, na última edição da Taça América em que foram protagonistas, defrontaram-se o melhor, o "Ranger" e o mais bonito "Endeavour", barcos que tiveram uma vida breve mas intensa. Ficaram as fotografias, os relatos e as memórias de uma época gloriosa, romântica e apaixonante. Há uns anos atrás, deu à cena uma réplica fiel do "Ranger", o Super J como ficou conhecido. Este "Hanuman" é uma cópia do "Endeavour", um belo desenho de Charles Nicholson e que faz antever a continuação do duelo de 1937. Veremos se a história se repete.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

terça-feira, 28 de julho de 2009

" O Valor do Vento"


Está um dia de vento e eu gosto do vento
O vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras e
só entram nos meus versos as coisas de que gosto
O vento das árvores o vento dos cabelos
o vento do inverno o vento do verão
O vento é o melhor veículo que conheço
Só ele traz o perfume das flores só ele traz
a música que jaz à beira-mar em agosto
Mas só hoje soube o verdadeiro valor do vento
O vento actualmente vale oitenta escudos
Partiu-se o vidro grande da janela do meu quarto
Ruy Belo

segunda-feira, 27 de julho de 2009

"Os Segredos do Mar Vermelho"


"Uma vez passada a barra, depois do abrigo de areia através do qual se prolonga a península do farol, o mar é muito bravo, completamente negro na noite opaca, rolando para norte as suas vagas fosforescentes que parecem fugir, empurradas pela fúria do vento, e são semelhantes a enormes cabeleiras lívidas despenteadas.
Nestas circunstâncias, apenas me resta uma saída: procurar maneira de apanhar com o vento pelas costas. Procuro, então, orientar o navio de forma que o enorme vagalhão que o empurra lhe passe por baixo. Por um instante, o navio parece recuar sobre o flanco oscilante da montanha de água, até ao fundo de uma ravina imóvel onde o vento mal penetra. Depois, a crista de espuma da vertente oposta torna-se mais branca por detrás do navio que se agita no topo, como se estivesse prestes a afundar-se. O navio eleva-se, com a proa apontada para o fundo, prestes a despenhar-se no abismo para depois ser arremessado impetuosamente para fora pela massa de água. Mas o demónio da vaga que o perseguia volta a arrastá-lo, e a espuma ameaçadora do seu topo abate-se à volta dele.
Neste momento, e durante cerca de um segundo, toda a força do mar está a meus pés; depois, a proa volta a elevar-se e caímos novamente para trás, entre novas muralhas de água negra, raiada de branco."
Henry de Monfreid in Os segredos do mar vermelho

sábado, 25 de julho de 2009

sexta-feira, 24 de julho de 2009

"Ria"

Depois de atravessada a estreita estrada bordejada de pinheiros chega-se a Pardilhó, e num ápice à Ribeira da Aldeia. Faço a curta viagem ainda meio por acordar, com o meu pai ao volante com o cigarro do costume em riste, como vela acesa a um santo qualquer. No final da longa estrada, entramos num amontoado de casas baixas e ruas estreitas que desembocam num largo em que não se vê fronteira entre a água e a terra. Não se sabe onde começa uma e acaba outra, milheirais mais atrevidos, que vão quase beber água à Ria intercalam com juncais mais teimosos que se recusam a ser amanhados pelos homens. Pelo meio, um rendilhado de pequenas valas que se perde quase no centro da povoação. As últimas casas ficam para trás, a estrada sólida termina e começa um outro mundo. Na borda do Esteiro marés de moliço aguardam, homens de roupas quadriculadas vão e vêm da faina, tratam dos barcos e falam ocasionalmente. Entre as bateiras, o "Asa Negra" sempre foi bem-vindo, foi feito ali ao lado no velho barracão, é um filho da terra.
Umas bombadas de gasolina, uns quantos esticões certeiros e o "Evinrude" lá se digna a dar sinal de vida.
Soltam-se as amarras, descalço-me e vou sentar-me à proa, o frio que sinto do convés contrasta com a manhã solarenga e sem ponta de vento.
Não digo palavra enquanto o barco vai ziguezagueando pelo canal que leva à Ria, entre ilhotas de junco, por uma água escura que parece não se mexer. Entramos na Ria, oleosa e lânguida , no meio de uma calmaria total em que o tempo parece que para.
Passamos a Varela, as Quintas , a Torreira onde a Ria se espraia e o Moranzel, com a Pousada debruçada sobre a água. Paramos no "Francês" e, depois das forças retemperadas, a brisa levanta e nós levantamos pano também, o vento mal enche as velas e o barco dengoso mal se mexe. Ao início da tarde a brisa vai crescendo e o barco ganha vida, as escotas acordam e é hora de ele brincar com o vento. O barco é imenso, muito diferente do "meu" Lusito, tudo é grande e pesado. O vento cresce ele vai mostrando, vaidoso, o seu belo bojo cor de lacre.
Bordo a bordo vamos regressando, com a travessia da ponte o vento fica mais de través e o barco aquieta-se, recata-se, volta a ter aquele ar de menino do coro.
Entramos no Esteiro já com o vento pelas costas e depois de uma voltareta que deve figurar dos manuais, aproamos ao vento entre marés de moliço e homens de roupas quadriculadas que iam e vinham da faina, que tratavam dos barcos e falavam ocasionalmente.

terça-feira, 21 de julho de 2009

"Avulsas"









fotografias- Miguel Tavares

sexta-feira, 17 de julho de 2009

"Sweet Lines"


The sweet lines of some of them all but took my breath away when i saw them for the first time in all their naked elegance. I reveled in their good looks and desire them as much for their beauty as their use.
John Gardner

quinta-feira, 16 de julho de 2009

segunda-feira, 13 de julho de 2009

"Navegador"






Foi o antecessor do "Almagrande". É um "Vouga" ligeiramente mais pequeno do que era usual, mas de linhas bastante tradicionais. Tem 5,10m quando o normal, à data em que foi feito, seriam os 6m. Sou o quarto ou quinto dono e continua a dar-me grande prazer olhar para as suas linhas, elegantes e fluídas. Esteve à beira do fim, tendo sido recuperado por Mestre José da Silva de Pardilhó. Ao invés dos actuais, que têm 8,50m de mastro e 24m2 de área vélica, este tem 7,10m e 14m2 respectivamente. Quando o comprei tinha um nome estranho e era de um amarelo garrido que quase fazia esconder a beleza das suas linhas.
Uma noite de Verão, num dos bares da praia, ia conversando com o dono do tasco a propósito de automóveis clássicos que fariam as nossas delícias, gostos pessoais, características técnicas, coisas das paixões. A revista que ia desfolhando e dando o mote à conversa, trazia na capa por mero acaso, uma belíssima Chris-Craft e não tardou que a conversa mudasse de bordo. Estava eu elogiar a lancha e vira-se um puto que nos escutava, "Se gostam dessas coisas velhas, o meu pai tem um "Vouga"para vender". Se temos horas felizes, esta foi uma das minhas.
No dia seguinte fui vê-lo e passados mais alguns, já depois de ter chateado meio mundo para saber a história do barco, e perto do local onde ele tinha sido construído sessenta e tal anos antes, rebaptizei-o com o nome original.

sábado, 11 de julho de 2009

"Porta da Estação"


Quadro de Manuel Amado em exposição no Museu da Cidade, em Aveiro.
Do enviado especial J. Moreira

quinta-feira, 9 de julho de 2009

"Bom Verão"


Visto os calções de banho e uma T-Shirt, talvez aquela que ostentava garbosamente no peitoral duas mulas puxando em sentido contrário, a tentar destruir a reputação da marca. A toalha, por trás do pescoço, como cachecol de verão, completava-me. Descia as escadas, com as as xanatas a fazer mais barulho do que era costume, cá em baixo a azáfama do costume.
Devidadamente acomodadas, entravam pró saco da galinha mãe, iguarias frescas que saciariam as crias mais tarde, água num jarro de plástico verde pastel.
No autocarro, presumo que alemão, tais os interiores espartanos, entravam as peixeiras da Torreira que tinham ido ao mercado vender.
Eu vi-as a enfiar as canastras no porão da camionete e pedia que nenhuma daquelas pesonagens vestidas de preto se viesse sentar ao meu lado. Habitualmente fediam.
Depois de cumprido o cálvario da velha estrada, curva contra curva, com os utentes a apreciar os dotes de pilotagem do condutor, lá entrávamos na reta da varela e dos milheirais.
Sobe-se a ponte, com o motor do veículo a gemer, a carroçaria a estremeçer e umas quantas rezas pra que ele não se fine logo ali.
O mar ainda preguiçoso,com ondas de palmo e meio chama por mim, o rio tem que se lhe diga mas , mar é mar.
Besuntam-me o corpo com creme duma lata azul e soltam-me.
O dia corre ao sabor do mar, do sol e da felicidade absoluta.
Como um cacho de uvas, a água do jarro verde pastel está morna e sabe a plástico.
O entornar na areia do resto da água morna do copo verde, dá por fim à praia. No regresso não estou tão atento às manobras do piloto. Deito-me com o cheiro da maresia e daquele creme da lata azul.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

"Pé ante Pé"


Na sexta-feira fui até à Ribeira de Pardelhas, a convite de um local, para uma "Assadela de Chocos"à moda da Murtosa. Como é à moda da Murtosa? Basicamente, e pelo que me apercebi, serão chocos, em quantidades industriais, assados em brasas perto do local onde tinham sido acabados de descarregar, comidos com a sua tinta e regados abundantemente com vinhos de gabarito. As batatas foram consumidas com parcimónia porque, segundo os populares, dão sono. Com e sem tinta, aviaram-se uns quantos alqueires deles, descontando-se aqui algum exagero do cronista. A noite, que parecia condenada pela morrinha que caía ao início, acabou por ficar de acordo com o manjar, de alta qualidade. Perto do local onde os comensais faziam a festa, o estaleiro dos "Amigos da Ria", onde há uns anos fervilhava uma actividade estonteante, obrigava à pergunta do porquê de estar sempre fechada. Acabaram os subsídios, segundo me disseram, e formadores e formandos foram à sua vida. Acabaram os fundos, e pouco ou nada ficou. Dos que andaram a iniciar-se nas artes da construção naval, quantos a continuaram como modo de vida? Nenhum! Ficou a sede, que serve para uns acontecimentos esporádicos, de índole gastronómica e social. No Sábado, fui até à Ribeira de Válega, participar em mais um anivesário da "Cenário". No final da noite, a satisfação era geral entre os associados e têm razões para isso. Da vontade e trabalho de meia dúzia de associados, que ajudam e contribuem com esforço, e tempo, e dedicação, estão a tornar a "Cenário" num exemplo que merece ser realçado. No cais, reabilitado por eles, repousam barcos que foram recuperados ali a dois passos. Dentro do antigo armazém de sal, já outros se perfilam para lhes seguirem os passos. Novas caras vão surgindo com o passar dos anos, pessoas que se vão juntando em torno de um gosto comum, o dos barcos de madeira. Da Ribeira de Pardelhas à de Válega vai uma distância muito grande, em atitude, a fazer lembrar as palavras de Kennedy; "Don't ask what your country can do for you..."
Obrigado à "Cenário" pela bela tarde. BONS VENTOS.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

"aniVercenário"


A "Cenário" celebra, por estes dias, mais um aniversário. Aqui ficam os meus parabéns pelos cinco anos de bons e leais serviços à causa. Lá estarei, a ajudar a apagar as velas. Bons Ventos e que venham no mínimo outros tantos. Aquele abraço.