terça-feira, 30 de junho de 2009

"Beside Seaside"







Snapshots of Portuguese coastal life.
P.S. Esta é uma série aldrabada porque, erradamente, situei a primeira fotografia na costa Portuguesa, o que não é verdade. Fica o reparo, e a fotografia, que é boa demais para a apagar.

"Os melros cantores de Pardilhó"


" A aldeia, encostada à Ria de Aveiro, tem uma boa mancheia de habitantes dependendo da terra ou das fábricas próximas, meia dúzia de cafés vulgares, uma estação dos Correios, uma cabine telefónica, uma agência bancária, dois carros de praça e um largo ajardinado com um quiosque e uma estátua. Já houve calafates, hoje resta um em actividade; o próprio sindicato da classe fechou. Às três da tarde de todos os Verões os senhores cansados dormem a sesta.(...)
Sempre que regresso numa data qualquer do mês de Agosto, o meu primeiro cuidado é arrumar os livros no escritório do falecido senhor meu sogro, ir ao bazar por papel e canetas de feltro, e esperar a manhã inaugural das férias com uma impaciência feita de sobressaltos e alta voltagem arterial. Na manhã seguinte eles lá estão, os melros, aquecendo a gorja para me saudarem. Primos irmãos, não escondem o afecto nem eu lhes perdoaria tal. Houve um que vinha cantar-me no rebordo do grande alpendre, fiado no professor francês: «E para começar, música!»
Se era lição aprendi-a porém mal, pois cada vez mais a dissonância vem tomando conta da minha poesia, ao ponto de poder ser confundida com prosa baça. Pouca vigilância, talento disperso: uma explica o outro, e vão vividos os anos suficientes para eu não mudar um mícron que seja. Agora espero a velhice e dentro dela a morte surda."
Fernando Assis Pacheco

domingo, 28 de junho de 2009

"Ria"




Em dia de sulada, um final de tarde a adivinhar uma noite de chuva.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

quinta-feira, 25 de junho de 2009

"Terry Miller"





Fotografia, desenho? Fica o link para o blog deste artista de mão cheia. http://pencilshaver.blogspot.com/

quarta-feira, 24 de junho de 2009

segunda-feira, 22 de junho de 2009

"Alma Lavada"


Sábado, ao raiar do meio-dia, lá fui até à Torreira com a esperança de ter um fim-de semana decente de vela. Na sexta tratei de arranjar tripulação, o que nem sempre é fácil, mas lá se conseguiu arranjar maneira de ter "Quorum" a bordo. No sábado, hora e meia depois do esperado e depois de uns quantos telefonemas e impropérios, lá apareceu um dos proas da embarcação. Mas vá lá, apareceu..
Depois das canseiras habituais, levanta mastro, afina aqui, aperta acolá, lá se pôs o barco na água. A seguir foram dois dias perfeitos de vela, daqueles que raramente acontecem na Ria. Calor, vento certinho e sem rajadas, na conta pra umas voltas descontraidas. Para compor o ramalhete, água com fartura, às horas certas. No domingo soprou um bocadinho mais forte e a Ria arrebitou qualquer coisa, mas com o calor que estava, as chuveiradas até souberam bem. No final ainda houve quem mandasse uns mergulhos, que a água convidava.
Costuma-se dizer que o óptimo é inimigo do bom, não foi o caso.

domingo, 21 de junho de 2009

"Havia sempre um cão que ia a bordo"

Falava sózinho o marinheiro sentado a uma mesa. Podia ter-se sentado numa outra mesa qualquer onde havia outras pessoas ou ao balcão do bar onde outros falavam também e onde um empregado talvez não os ouvisse. Sentado diante dum copo que fazia oscilar entre os dedos, falava sózinho o envelhecido marinheiro e dizia insistentemente que havia sempre um cão que ia a bordo. O resto do seu solilóquio perdia-se nas ventanias que fustigavam a sua embarcação desamparada onde ia um cão.
Quem nunca teve um cão não sabe o que é ser amado. Não sei se foi Kant que o disse ou qualquer outro filósofo que tenha escrito sobre o sentimento da angústia. Poderia ter sido o marinheiro. Ou outro qualquer navegante porque a vida tem muitos outros mares e muitas outras marés para as pessoas navegarem.
O cão… Desde tempos imemoriais, dos segredos das areias do velho Egipto dos faraós, que o cão viaja ao lado do homem. Ou por dentro do homem. De ser tão antiga a história confundiu – os, entrelaçou raízes, misturou as vidas. Vida de cão. Sobretudo as vidas que viajam. Já sabeis: para quem viaja sem rumo, sem destino certo, nenhum vento é favorável. E os vadios, os abandonados não têm rumo nem destino certo. Podem apenas esperar uma monção favorável que quase nunca sopra. Para sustento lhes basta um afago, a ternura duma mão, um olhar, mesmo que volátil, e viajarão sempre carregando a suas fomes milenares e as cicatrizes do abandono. Brel, muito antes de navegar, já trazia por dentro um desses cães:

Laisse moi devenir l’ombre de ton ombre
L’ombre de ta main
L’ombre de ton chien

Sentir sobre a sombra o afago da mão querida, eis quanto bastava para diluir a corrosão. Por certo o sabia o marinheiro sentado a uma isolada mesa do bar: havia sempre um cão que ia a bordo. E o barco, todos os barcos viajam sempre até encalharem ou naufragarem, que também são destinos de cão. Sei dum barco que naufragou um dia nas planícies de Soria:

Oye otra vez, Dios mio, mi corazón clamar
Señor, ya estamos solos mi corazón y la mar

Sim, eu sei porque Machado disse isto. E soube-o melhor quando o rumo do meu barco se tornou incerto fazendo ganir o cão que ia a bordo.
Texto de Sérgio Paulo Silva.

sábado, 20 de junho de 2009

"Les Nuits"


Fazer vela, coisa que raramente faço, é indescritívelmente belo. Não se sabe muito bem porque os barcos fascinam os homens mas ninguém é imune à beleza dum barco à vela. Sejam "Optimists" no seu bambolear característico, com miúdos que não lembrava ao diabo de tão novos que são, o poder fantástico dum moliceiro à bolina com vento forte ou à grandiosidade dum "Creoula" ou duma "Sagres". Das coisas mais bonitas que já vi em termos de vela, foi-me possibilitada por uns dos mais capazes lemes da Murtosa, não aos comandos de um moliceiro em que é "Ás", mas antes aos de uma bateira, em treinos para a regata de S.Paio. Penso que se chama Reinaldo, sem certeza, e deliciou-me com uma récita de bem manejar um barco.
E se ninguém é imune à beleza, ao sonho, quem lá vai dentro sê-lo-á ainda menos.

terça-feira, 16 de junho de 2009

domingo, 14 de junho de 2009

"A Desperate Battle"

Há uns tempos atrás descobri Russ Kramer e fiquei admirador das suas pinturas, este é o seu último trabalho a que junto a sua descrição.

"The America’s Cup trials of 1934 were closer than any before or since. YANKEE, the Boston syndicate boat, under owner Chandler Hovey and helmed by Charles Frances Adams, had the upper hand throughout the Summer. But, after Mike Vanderbilt ordered RAINBOW to be re-ballasted, she soon drew even in matches. All tied up going into the final race, RAINBOW would win it by a single second, and when chosen over YANKEE to defend, it was a crushing blow to the team from Marblehead."

"Vintage Sailing"

Shamrock IV


Bluenose

Britannia


Water Witch

sábado, 13 de junho de 2009

" Les Nuits "


" Uma vez que ignoras o que te reserva o dia de amanhã,
procura ser feliz, hoje.
Toma uma ânfora de vinho, senta-te ao luar e bebe,
lembrando-te que, talvez amanhã, a lua te procurará em vão. "
Omar Khayyam, poeta persa.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

quarta-feira, 10 de junho de 2009

domingo, 7 de junho de 2009

sexta-feira, 5 de junho de 2009

"Lusitânia"


Os que avançam de frente para o mar
E nele enterram como uma aguda faca
A proa negra dos seus barcos
Vivem de pouco pão e de luar.

Sophia de Mello Breyner

quarta-feira, 3 de junho de 2009

"Onde os bois lavram o Mar"

Tinhamos preparado, aqui o escriba e os escravos de serviço ao blogue, dois apontamentos sobre a Arte Xávega, o anterior e um que também se publicou no Youtube, filmado na Praia de Mira nos anos Oitenta. Apareceu entretanto um outro, filmado na mesma praia uns quantos anos antes, que só peca por estar incompleto. Junto-lhe algumas palavras de Egas Moniz, retiradas do seu livro "A Nossa Casa", algumas recordações da sua primeira passagem pela Praia da Torreira.

"Depois, no regresso, o costumado banho. O mar continuava ruim, mas ia decrescendo o desmando das ondas alterosas, prometendo próximos dias de pesca. Diziam os entendidos que havia sinal de sardinha. Uma companha, suponho que a do arrais Sebolão, arrostou o mar, ainda agitado, no lanço das 11 horas. O barco com as cordas e as redes, correu o perigo, com a sua proa arqueada e a sua meia quilha, afrontando as águas. Daí a momentos ele desaparecia no vale das ondas para surgir altaneiro no dorso das vagas e voltar a ocultar-se da vista dos que o seguiam com ansiedade. Isto durou longos minutos. Em certa altura viu-se o arrais a fazer grande esforço para atacar de frente as ondas que, se batessem de flanco, poderiam voltar a embarcação. Mas vinham outras traiçoeiras, de ressaca. Logo correu pela classe piscatória que havia barco em perigo. Tudo apareceu na praia. Não ficou viv'alma nos palheiros. Também saímos a ver o que se passava. Parecia que a população decuplicara. Era uma vozearia vibrante que penetrava pelos ouvidos até às almas angustiadas. Velhos a clamarem, mulheres a barafustarem, crianças a chorar..."