"Alguns anos antes, eu tinha atravessado o estreito de Bali, de noite, a bordo dum navio de velame completo. Ao anoitecer, os picos de Java erguiam-se a grande altura acima de mim, pelo que os altos mastros do barco pareciam anões. A noite caiu de repente. Não havia Lua. A maré seguia rápida para o norte e o meu navio avançou à força de vela. No ponto mais estreito - apenas uma milha de largura - as águas corriam à velocidade de 6 nós e o navio avançava a 16, porque o vento era fresco e todas as velas foram desferradas. A terra alta de Java parecia estar quase sobre mim, e a rebentação era ruidosa e ameaçadora. Podiam ouvir-se os grilos a cantar nas florestas próximas, porque o meu barco não fazia qualquer ruído, salvo o que produzia o bater da água de encontro à proa e aos dois lados dos velho casco de ferro. Estava uma dessas noites tropicais, perfeita e tranquila, quando falar parece sacrilégio e todo o mundo, pelo menos uma vez, está em paz, não se ouvindo nenhuma voz humana discordante. Havia alguns redemoinhos na corrente rápida, e, aqui e além, um movimento de ressaca proveniente da proximidade demasiada dos recifes. O meu pequeno barco recuava e balouçava às vezes, quando o movimento das águas da superfície queria tolher-lhe o passo. Mas ele seguia corajosamente, com a espuma elevando-se alta á proa e a esteira fosforescente, semelhante a uma linha de mar leitoso com uma milha de extenção, e as estrelas como que desciam para beijar ao de leve os topes dos mastros. Então chegou ao mar de Java, e todo o Oriente se estendia à sua frente."
Alan Villiers in" Nos domínios da monção"
domingo, 5 de outubro de 2008
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