" A Lua deu chuva, uma chuva em bátegas grossas, que desabavam como dilúvios. Mas cada aberta de sol era uma ressurreição: o céu azul, os telhados de um vermelho quente e, para os lados da terra, os campos e os montes mais verdes.
O mar continuava o mesmo. Só os barcos do carapau podiam sair, que na borda a rebentação das ondas amainava. Ao largo, estava tudo branco de carneiros e o horizonte tapado por uma parede que ameaçava.
A puxar as redes, filas negras arrastavam-se pela praia acima - homens e mulheres em farrapos, já sem poderem arrancar os pés enterrados na areia, agarradas aos ombros as cordas que saíam do mar.
À frente das casas apertadas umas contra as outras, a todo o comprimento da praia, o paredão estava negro de gente a ver o mar. Outros barcos lançavam redes no mesmo sítio donde aquelas íam sair.
Rolos de nuvens brancas fugíam no céu azul, a querer puxar bom tempo. E em todos os olhos havia uma esperança, que o sudoeste tanto é sinal de que vai demorar o mau tempo, como é o vento que tráz o carapau à borda.
Desde o romper da madrugada que as companhas do arrasto andavam na faina. Era a gente mais pobre, que vivia para o sul da povoação. E nada: uns montinhos de carapau que cabiam num avental.
- Andam fartos de coar o mar! - murmurou, numa voz para dentro, uma mulher que passava."
in Mar Santo - Branquinho da Fonseca
Fotografia- Eduardo Gageiro
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
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