domingo, 31 de agosto de 2008

"Vito Dumas"





No dia 8 de agosto de 1943, Vito Dumas é recebido em Buenos Aires como héroi, acabava de dar a volta ao mundo, rondando os três principais cabos. Partira um ano e um mês antes, a bordo do LEGH II, sigla eleita por Dumas como lema: Lucha, Entereza, Hombría, Grandeza. No pequeno barco de 9,5m, parte em direção à Cidade do Cabo, depois Wellington, Valparaíso, Mar da Prata e finalmente Buenos Aires, deixando o Horn pelas costas. Não foi esta, nem a primeira nem a última das suas grandes viagens, em 1931 tinha já atravessado o Atlântico em solitário, entre França e a Argentina e em 1945 faz uma dupla travessia, passando por Montevideu, Punta del Este, Rio de Janeiro, Havana, Nova Iorque, Açores, Canárias, Cabo Verde e regressando a Buenos Aires, 234 dias depois tendo percorrido 17.045 milhas no inseparável LEGH II. A sua última grande aventura seria em 1955, sempre a solo, em que se propõe a fazer as 7.100 milhas que separam Buenos Aires de Nova Iorque numa só tirada, demoraria 117 dias. Continua a ser considerado por muitos o maior navegador solitário de sempre.

Fonte-www.navegantevitodumas.com.ar

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

"Auto-construção"

" Sim, sim, é verdade: há muitos anos que o meu antigo cunhado Eugénio foi comigo à pesca e viu como eu apanhava enguias à fisga (às cegas). Há quanto tempo te não vejo, rapaz! Vai daqui um abraço. Depois levei uma data de vêzes o teu filho, e meu sobrinho, Francisco com quem tive tardes inolvidáveis. Numa delas estavamos ao tim-tim entre a Torreira e a pousada e nesse dia a ria estava infestada de novos-ricos com lanchas potentes que não respeitavam nada nem ninguém. Passavam a duzentos à hora apesar de se ver a léguas o meu barco com uma criança dentro. Outros, também com motores avantajados, andavam para baixo e para cima ao corrico e com o mesmo comportamento. O meu barco, coitado, bailava que tinha o diabo e, eu ali com o miúdo, depressa me enfadei e comecei a tratar aquela malta pelos nomes próprios, à moda da minha terra, como se os conhecesse há muito: " cabrão" " seus filhos da puta"... Lá iamos tirando o nosso robalito e aguentando até que surge uma lancha em alta velocidade com um casal já idoso que, talvez por notarem a criança, abrandaram e passaram por nós em velocidade muito reduzida. Fiz-lhes um gesto (de agradecimento) mas não lhes disse nada, silêncio esse que o miúdo estranhou e o levou a esganiçar : " Seus filhos da puta" ...
Adiante. À Sra. D. Ana Maria Lopes, que não tenho o prazer de conhecer, um bem haja antecipado por estar a fazer um trabalho sobre o mestre Arnaldo. Penso que pouquinho mas poderei dar uma ajuda. Quando tiver o trabalho feito, p.f. dê-me notícias. O Dr. Alvaro Garrido ou aqui o Marco localizam-me em segundos.
Finalmente o também meu antigo cunhado e amigo de sempre João Fernando Veiga. Um abraço amigo também. Aqui vai o Esganagatos a navegar, numa brincadeira, no rio Antuã. Eu estou sentado na proa e o que tenho na mão é um galricho cheio.....de carapaus. Foi feito pelo meu sogro, José Neto, em tola e contraplacado marítimo. Tenho outro, também feito por ele e com os mesmos materiais mas muito maior, esse sim já próprio para andar pela ria larga. Comprei-o ao meu cunhado Manel que se queria desfazer dele e agora são ambos inegociáveis. Meu sogro fez maravilhas em e com a madeira (veja-se o tecto da igreja de S.Tiago, Estarreja) mas não era carpinteiro naval. Era um grande apaixonado da pesca das enguias e naturalmente o livro que escrevi sobre as enguias dediquei-lho e não prescindi dele na urdidura. Um dia ( ai há quantos anos!) fomos caçar rolas para a mata de S.Jacinto nos limites norte do que é hoje a reserva natural. Num telheiro estava um barquinho a que ele achou graça. Pegou-lhe e disse-me " Já viste como isto é leve? Qualquer pessoa sózinha o carrega e vai pescar em qualquer canto. Que jeitoso para ir ao candeio!". Tirou medidas e não tardou que tivesse feito uma réplica. Só que, metido à água, funcionava mal, emperrava. Modificou-o conforme a sua ideia e foi logo outra loiça. O producto acabado é isto que aqui está. Aos 70 e tal anos metia sem ajuda o barquinho na sua velha peugeot de caixa aberta e tanto ia pescar para Pardilhó como para Canelas ou Válega. E isto quase todos os dias. Como eu escrevi nesse tal meu livro, as minhocas do seu minhoqueiro eram muito saborosas e onde ele aparecia logo estragava o fieiro dos outros mesmo que já lá estivessem de véspera. Claro, isso era num tempo em que era possível fazer e registar a auto-construção. Agora as complicações são tantas que mais vale estar quieto. As novas leis são castradoras de tudo e de todos. Quem quizer fazer uma piroga deverá preferencialmente ir para a Amazónia. Se teimar em cá ficar, então terá que fazer barcos moliceiros, a motor e com retrete a bordo... Pronto. Já vos aborreci que chegasse e isto não é bem a minha àrea. Cá virei, de longe em longe, quando me aparecer alguma coisa com que possa ajudar o Marco a fazer singrar este seu interessante blog. Um abraço para todos."
Texto e fotografia- Sérgio Paulo Silva

"Mar Santo"

" A Lua deu chuva, uma chuva em bátegas grossas, que desabavam como dilúvios. Mas cada aberta de sol era uma ressurreição: o céu azul, os telhados de um vermelho quente e, para os lados da terra, os campos e os montes mais verdes.
O mar continuava o mesmo. Só os barcos do carapau podiam sair, que na borda a rebentação das ondas amainava. Ao largo, estava tudo branco de carneiros e o horizonte tapado por uma parede que ameaçava.
A puxar as redes, filas negras arrastavam-se pela praia acima - homens e mulheres em farrapos, já sem poderem arrancar os pés enterrados na areia, agarradas aos ombros as cordas que saíam do mar.
À frente das casas apertadas umas contra as outras, a todo o comprimento da praia, o paredão estava negro de gente a ver o mar. Outros barcos lançavam redes no mesmo sítio donde aquelas íam sair.
Rolos de nuvens brancas fugíam no céu azul, a querer puxar bom tempo. E em todos os olhos havia uma esperança, que o sudoeste tanto é sinal de que vai demorar o mau tempo, como é o vento que tráz o carapau à borda.
Desde o romper da madrugada que as companhas do arrasto andavam na faina. Era a gente mais pobre, que vivia para o sul da povoação. E nada: uns montinhos de carapau que cabiam num avental.
- Andam fartos de coar o mar! - murmurou, numa voz para dentro, uma mulher que passava."

in Mar Santo - Branquinho da Fonseca
Fotografia- Eduardo Gageiro

terça-feira, 26 de agosto de 2008

"Outros Barcos"

" Conforme ontem prometido:
Esta fotografia é gémea duma que publicitei no meu livro Um Santo Lavado com Vinho. Para que conste: houve há muitos anos um estaleiro naval no esteiro de Salreu. Dos Garridos. Faziam bateiras essencialmente, de tamanhos e configuração diversa para os trabalhos agrícolas ( juncos e canízias, movimentação de gados...). Em Canelas sobressaiu o mestre Arnaldo- aqui à esquerda, de chapéu - no mesmo mister. O último dos " Garridos"ainda vivo, depois de um período longo na Venezuela, regressou. E, como quem sabe nunca esquece, meteu mãos à obra a recuperar uma dessas bateiras.Ei-lo aqui de camisa branca desafiando o fotógrafo. Penso que os estudiosos deveriam ir até ao esteiro de Salreu conversar com ele e registar. A CM, sobretudo, devia destacar pessoas da sua Casa da Cultura para isso mesmo. Quanto ao mestre Arnaldo, já não é vivo. Mas terá família, amigos...questionando (a aldeia é pequena) talvez se conseguissem algumas fotografias. E, por falar nisso, quando voltares a Pardilhó, tu ou alguém que possas envolver, deviam filmar o estaleiro do Zé Pitarma e do Diniz. A câmara ( quem dera ! ) não captará os cheiros de madeiras e vernizes mas reterá o resto. Sobretudo demorem a câmara nas mãos desses artistas, vejam como eles moldam os barcos como se acariciassem as águas. Façam-no depressa mas sem pressas. Enquanto é possível. No anterior, como neste, se para além das fotos quiseres também publicar directamente o meu paleio, podes fazê-lo. Quando tiver mais, voltarei. Um abraço. "
Texto e fotografia- Sérgio Paulo Silva

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

"Artur Pastor"

Descobri-o há dias pela mão de um amigo, enquanto procurava uma imagem para ilustrar o post anterior, magnífica fotografia. E atrás dessa, apareceram outras que não lhe ficam atrás.
Pena minha que o seu espólio, adquirido pelo Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa não esteja aínda disponível online.

domingo, 24 de agosto de 2008

"Barca Bela"



Pescador da barca bela,
Onde vás pescar com ela,
Que é tão bela,
Ó pescador?

Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Ó pescador!

Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela ...
Mas cautela,
Ó pescador!

Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela
Só de vê-la,
Ó pescador.

Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela,
Foge dela,
Ó pescador!

Almeida Garrett
Fotografia - Artur Pastor

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

"Cais da Béstida"

Antes da ponte da Varela, era aqui o fim da estrada. Do lado de lá, a Torreira, uma pequena aldeia piscatória, isolada por terra e à data só acessível por água. Daqui partiam e chegavam pessoas e mercadorias, fosse a peixeira com a canastra à cabeça para calcorrear as populações vizinhas, o médico para uma consulta do lado de lá ou aínda os primeiros veraneantes que íam a banhos. Ontem, o Sérgio Paulo Silva enviou-me esta foto a que junto o seu comentário.

Caro Marco:
A imagem que aqui te envio faz parte do meu livro sobre o S.Paio ( Um Santo Lavado com Vinho) e é uma das muitas que usei de quantas foram feitas pelo Prof. Egas Moniz que, num tempo em que eram raríssimos os que possuiam máquina fotografica, tinha sensibilidade para "gastar" as películas em paisagens e gente anónima. Para além da excelência que lhe deu o prémio Nobel, tinha outras excelências... A imagem é dos anos 20 de século passado e não carece de grandes legendas. Cá fica enquanto não te arranjo mais. Saludos.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

"Dia Mundial da Fotografia"



Para assinalar o dia, algumas fotografias de Augusto Cabrita.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

"Mar"

Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.

Sophia de Mello Breyner

domingo, 17 de agosto de 2008

"Cruzeiro 08"



Do Cruzeiro da Ria, ainda uns instantes, capturados por valeroso elemento da embarcação.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

"Neptuno na Horta"

No dia 15 de Fevereiro de 1986, sábado, entre as 12H e as 16H, inesperadamente aconteceu a maior tempestade do séc.XX e a maior até à data nos Açores, em que o vento atingiu velocidades de 250 km/h.
José Henrique Azevedo fez fotografias durante e após a tempestade. As ondas atingiram entre 15 e 20 metros e a rebentação das ondas chegou a atingir os 60 metros.
Dois anos depois, querendo mostrar o acontecimento com mais facilidade aos iatistas, que frequentam o seu bar “Peter Café Sport”, José Henrique passou duas das fotografias de diapositivo a papel. Descobriu então, que no momento em que tinha tirado uma delas, se tinha formado na rebentação da onda, uma figura humana (cabelo, olhos, nariz, boca e barba) dando-lhe o nome de “Neptuno na Horta”.
Texto e fotografia retirados do site do Peter Café Sport-http://www.petercafesport.com/

"Torreira"

No ano de 1974 ou 75, o mar ameaçou e devastou grande parte da praia da Torreira, e outras presumo. A areia da praia começava no final do pequeno declive da Avenida, acabava o alcatrão e começava a praia. Não me lembro dos pormenores, só do trânsito de camiões carregados de pedras e da falta de acessibilidade nos anos seguintes. A partir daí, uma muralha de pedra protegia as casas e as pessoas, pra mim não era mais que um empecilho pra chegar à praia, um último obstáculo antes de me estalangar ao sol, antes daquele mergulho.
Anos mais tarde, ou melhor, há uma semana atrás mostraram-me esta fotografia e melhor aínda, facultaram-ma, um poço em plena praia posto a descoberto pela tempestade.
Não ouso comentar, mas gostava.

Fotografia- Sérgio Paulo Silva

domingo, 10 de agosto de 2008

"Paul Elvström"



Em tempo de Jogos Olímpicos recorda-se um dos maiores, senão o maior regatista da vela ligeira. Participou em 8 Olimpíadas e é, juntamente com Carl Lewis e Al Oerter, o recordista em vitórias consecutivas nos Jogos. Em 1948 em FIREFLY, 52/56 e 60 em FINN.
Dedicado e perfecionista, a ele se devem algumas inovações que viriam posteriormente a ser adoptadas por todos, caso do Boomjack ou das cintas para os pés, entre outras.
Durante a sua carreira foi 15 vezes campeão do mundo, em 505, Finn, Snipe, Star, Flying Dutchman, 5.5, Soling e Half Ton.
Foi fabricante de velas, mastros e retrancas, desenhou barcos e ajudou na criação de regras internacionais de regatas. Em 1996 foi nomeado Desportista Dinamarquês do século e em 2007 foi um dos primeiros escolhidos pela ISAF para o "Sailing Hall of Fame".

coffee & milk

Rodin-made in China
postado por Moreira

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

"A Season not so Silly"

Uma das mais bonitas frases que ouvi acerca da amizade, ouvi-a do meu pai, referindo-se a um grupo de amigos de longa data, que desde sempre se reuniam no mesmo café, quase sempre na mesma mesa , " eles já pouco falam, já falaram quase tudo, basta-lhes a companhia, a presença dos outros para se sentirem bem". Volta e meia lembro-me da frase, e cada vez mais me revejo nela, cada vez me faz mais sentido, quando uma amizade aguenta o silêncio aguenta tudo. Há dias, em jantar que me propiciaram, a conversa proveitosa e prazenteira fluía, embalada por um tinto nascido em berço D'ouro, que cresceu na medida exacta da conversa.
A Ria, sempre ela, e o vizinho mar a darem o mote para uma noite assaz curta, quase um sumário do que poderiam ser mil noites, tal a riqueza da região, das pessoas, dos costumes, das tradições, das artes que se vão perdendo. Da construção das bateiras, moliceiros, mercantéis, lugres bacalhoeiros, a vida ribeirinha que se vai perdendo, a relação da lavoura da região com a laguna, a tradição da nossa construção naval e da migração de talentos para outras zonas do país, até para outros países. Entre garfadas, a noite farta presenteava-me com pérolas só ao alcance de alguns, d'aqueles que alimentam o espírito, que procuram, que pesquisam, que tentam relacionar, e a seguir, como mágicos tirando coelhos da cartola, partilham. Os amigos, quem os tem que os estime, pode ser que chegue a altura de se partilharem os silêncios.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

"Les Nuits"


DE MANHÃ escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é o meu norte

Outros que contem
Passo por passo
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço :
-Meu tempo é quando.

Vinicius de Moraes

domingo, 3 de agosto de 2008