quinta-feira, 29 de outubro de 2009

"Bichos"


Chegaram cá a casa as primeiras castanhas, fracas com certeza porque, segundo rezam os antigos, ainda não apanharam o frio suficiente que as torne paladosas. Segundo o Borda d'Água é tempo de ir ao pomar colhêr os dióspiros, que por aqui partilhamos com uns quantos melros gulosos, finos que nem alhos, gordos e lustrosos. Há por aqui uns quantos, que vão dividindo a fruta connosco ao longo do ano, havendo, ou, atrevidos, à falta de melhor, o bago de arroz que sobeja da comida dos cães.
A convivência com o campo é tudo menos monótona, ao nascer de cada dia somos confrontados com realidades que julgaríamos pouco possíveis há alguns anos. Se me dissessem que iria ver a pastar tranquilamente na minha horta, uma família de javalis, ao cheiro da fruta caída, acharia pouco provável. Ou se me deparasse à porta de casa com um esquilo, daqueles que só se vêem nos filmes americanos e em postais natalícios, completamente estraçalhado pela família de Jack Russells que partilha do nosso espaço, iria duvidar.
Aliás, estes meus cães não páram de me surpreender, possibilitando-me vêr coisas quase irreais como certa vez em que, alertado pela algazarra que faziam, fui dar com três deles encurralando um gato no telhado de um celeiro de segundo andar. Resultado; gato - 1, Jack Russells - o.
Vê-lo cego por um ódio ancestral, ao ponto de se estatelar cá em baixo.
O bucolismo do campo desaparece com a visão estranha da capoeira, devassada por uma doninha pela noite ou de lagostins que gostam de dar umas trincas nuns pés de milho. A vida no campo é tudo menos sonolenta, nunca entediante.
E por falar neles, nos cães , o patriarca está muito velho, cegueta e moio de pancada prós mais novos. Ganhou o direito, por mérito próprio, de pernoitar no quente e levar uma côdea pela ceia.
Habitualmente dorme a sono solto, mas há um bocado ao entrar na cozinha, vi-o acordado com uma expressão de quem está a prestar contas com a vida. Palpita-me que não passa a queda da folha. O barco, esse, continua enclausurado no cabanal.

4 comentários:

PROA disse...

Capitão, adorei ler o texto, são umas pestes inteligentes mas sem noção do perigo! :)

Andas a trabalhar bem....
Fica aquele abraço, agora do casado proa ehehhehe

almagrande disse...

Outro pra ti.

jc disse...

Adorei este texto e vejo que que também gosta de cães.Por aqui, esta Semana morreu um cão muito especial... o cão da minha vida.Morreu de velhice mas ao lêr o seu texto recordei momentos muito bons que passei com ele!Foi esta Semana e já estou com saudades dele.

almagrande disse...

Boas JC, gosto muito de cães e desde sempre que os houve lá por casa. Tenho por lá uns quantos, são uma companhia óptima mas volta e meia dão uns desgostos à gente.