segunda-feira, 30 de março de 2009

"Livros"


“Posfácio à Segunda Edição
A nova edição de um livro significa que esse livro não morreu. (...) Um livro que se reedita é um livro que se esgotou. Portanto: Quem o esgotou? Quem o leu? E porquê? (...) Dúvidas graves de quem não desejaria que o seu romance fosse apenas ópio, claro está. (...) Alguém que, muitas vezes, põe este problema: valerá a pena escrever romances? E estoutro: valerá a pena lê-los? Sim; porque leio eu um romance? Admitamos que há numerosas razões e que uma delas pode ser esta: passar o tempo. (...) Independentemente de me ajudar a passar o tempo, a leitura dum romance multiplica em várias direcções a minha pobre vida quotidiana, permitindo-me sonhar. Mas não só: para além desse alargamento de actividade que me lança num palco imaginário, a leitura satisfaz o meu amor desinteressado pelas histórias. Porque gosto de ouvir histórias, mas nem sempre os amigos as têm “verdadeiras” para contar. E nem sempre eu estou com os amigos. Essas histórias – ouvidas ou lidas, real ou fingidamente verdadeiras – ajudam-me a sair de mim próprio e a descobrir o mundo. (...)
”in 2ª edição de A Cidade das Flores, de Augusto Abelaira. 1961
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Contribuição de Maffie. O meu agradecimento.

domingo, 29 de março de 2009

"A nossa casa"


"Anoitecia. O sol sumira-se no horizonte por detrás de uma nuvem escura, franjada, que a lua debruava de oiro. Mais longe, a norte e a sul, o debrum passava a ser esbranquiçado brilhante, com intervalos luzentes nos mais elevados cumes. Pelo céu, aqui e além, viam-se farrapos de nuvens pelos quais se espalhavam as cores do espectro que o sol, na agonia lhes dispensava, como último adeus do dia a desaparecer na fuga para o outro hemisfério. O amarelo e o laranja predominavam nas ilhas flutuantes das nuvens mais próximas e o verde e o roxo coloriam as mais distantes para as bandas do nascente. E, pouco a pouco, as sombras iam caindo e o silêncio foi-se apossando da tripulação barulhenta do barco.
Já a caminho da ribeira da aldeia, nasceu a lua. No canal, as rugas de água multiplicavam as luzes reflectidas, em rosário de contas luminosas, ao lado da embarcação.
A lua ascendia em quarto crescente avantajado; em torno abronzeava-se a atmosfera e havia uma ligeira viração de suave melancolia a cobrir-nos a todos, na contemplação daquele quadro que pedia a paleta de Corot.
Tudo recolhia. Os barcos da faina do dia, os trabalhadores das mondas dos milheirais e da abertura e limpeza das rigueiras dos juncais vizinhos. Chilreavam vagamente as aves mais retardatárias que se acoitavam nos campos marginais. As codornizes por lá se conservavam. A fortaleza das chuvas ainda não as fizera descer aos campos em busca da milhã. Mas essas aves de há muito dormiam sono alvoroçado, com receio dos caçadores.
Todos - e até a nossa caravana - se sentiam fatigados a caminho dos lares, naquele lusco-fusco crepuscular em que a natureza se torna mais modesta, na quietação das coisas."
Egas Moniz in A Nossa Casa

sábado, 28 de março de 2009

"Control"


Na minha terra , há uns quantos anos atrás, quem ía buscar os filmes era o Ernesto. Descia a Avenida em pose racing, na sua bicla , em vôo rasante, até se imobilizar no largo da Estação. Eu via-o passar, com a pala do boné ligeiramente atravessada, em grande aceleração, ao que se seguia uma paragem estratégica na tasca que ainda lá mora. No sentido inverso, Ernesto empurrando a bicla, em esforço homérico avenida acima. De tal forma eram conhecidos os seus esforços a transportar as fitas enlatadas, colina acina, ao lado da ginga, em penitência redentora, que era comum ouvir-se;"o filme é pesado?", e alguém respondia, "Tens que perguntar ao Ernesto...". Isto a propósito de um dos melhores que vi nos dois últimos anos.

quinta-feira, 26 de março de 2009

"Rednecks"


Encontrei esta fotografia na Biblioteca do Congresso norte americano, gostei dela mas gostei particularmente da legenda que a acompanha. "Spain. Lisbon waterfront & Plaza of Commerce. Sem comentários...

quarta-feira, 25 de março de 2009

terça-feira, 24 de março de 2009

"Opium"


There's no opium so sweet as the unguarded sunny sleep
on the deck of a boat when it's after lunch in summer
and you don't know when you're going to arrive nor
what port you will land at, when you've forgotten
east and west and your name and address...
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John Dos Passos

segunda-feira, 23 de março de 2009

"Turistas"






Este sábado a maré estava já bastante baixa a meio da tarde, pelos vistos hora de lanche para esta rapaziada. Não deviam contar que por lá estivesse alguém, depois da surpresa inicial e de alguma desorganização lá foram mariscar pra outro lado qualquer.
fotos- Miguel Tavares

domingo, 22 de março de 2009

"E porque hoje é sábado.."










Depois de uma semana de trabalho, e algumas canseiras, depois de andar com o barco às costas, montar, pôr na água, aparelhar, é o gozo total. Todo o resto desaparece, para todos, seja para o leme, pró proa ou pra qualquer passageiro acidental. Hoje foi curta a velejadela, a água não dava pra muito mais. Um ventinho mareiro agradável, boa companhia e um sol a ajudar.
fotos- M.Tavares/Róz

sábado, 21 de março de 2009

"Cântico Negro"

A assinalar a data, em boa hora lembrada pelo Comandante João Veiga, José Régio declamado por um dos que melhor soube tratar a nossa língua, João Villaret. Para os que não vão por ali.

"Vintage Sailing"









sexta-feira, 20 de março de 2009

"A Wind"


A wet sheet and a flowing sea,
A wind that follows fast
And fills the white and rustling sail
And bends the the gallant mast.
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Allan Cunningham

quinta-feira, 19 de março de 2009

"Knife in the water"

Gosto de alguns filmes que o Polanski fez, mas os seus primeiros, à excepção de "Repulsa", desconheço-os por completo. Por este tenho uma certa curiosidade, quanto mais não seja porque o barquinho, apesar da sua estética algo duvidosa, anda bastante bem. Se bem me lembro, o enredo já foi reutilizado num filme qualquer de Hollywood com a Nicole Kidman.

quarta-feira, 18 de março de 2009

"Thomas Hoyne"












Thomas Hoyne . 1924-1983

"Argus"


"O vento frio do norte aumentava constantemente de intensidade e os flocos de neve dançavam em rodopios diante da luz forte das lâmpadas do convés. O vento começou a assobiar nas enxárcias de aço e as ondas do mar, quebrando-se ao atingir o costado, varriam o convés, misturando-se com o sangue e as entranhas do peixe. Amontoados nos enormes quetes, os bacalhaus rebolavam e deslizavam para um lado para o outro quase como se estivessem vivos. Por todos os cantos do convés, a neve e a água brilhavam sobre as badanas e sobre os rostos dos homens fortes e barbudos que tinham começado o trabalho às quatro da madrugada. Ágil e determinado, o primeira linha parou por um momento de escalar peixe e de arrancar espinhas para levar uma mão suja ao sueste e tirar de lá um cigarro. Cada homem concentrava-se no seu trabalho individual, em silêncio, enérgica e eficientemente, fazendo valer cada golpe de faca e movendo-se por entre amontoados de bacalhau, de cabeças de bacalhau e de entranhas que lhes chegavam até aos tornozelos, por vezes até aos joelhos - e labutavam sem parar, hora após hora. Nove da noite, dez da noite, onze da noite...Ninguém tocava o sino a marcar as horas e todos ignoravam o altifalante. Pouco passava das onze quando o trabalho finalmente acabou, à excepção das espinhas, tarefa que poderia ser terminada no dia seguinte pelos moços. Os pescadores podiam finalmente descer. Foi servida então uma ceia generosa, de sopa de peixe. A «chora», como lhe chamavam.
- Não a comas - avisou o César. - Porque quem a comer há-de regressar aos bancos.
Aceitei o conselho e não a comi, porque era feita de cabeças de bacalhau e de caras de linguado gigante. E porque não tinha vontade de regressar aos bancos. Esta rotina prolongar-se-ia ainda por seis semanas, e depois disso iríamos rumar à Gronelândia, onde as condições eram bastante piores. Achei que uma viagem para mim bastava."
Allan Villiers in A campanha do Argus

segunda-feira, 16 de março de 2009

"Ria de Aveiro"






Um copo de três para quem gosta desta Ria, sendo a primeira dedicada aos blogues "Imagens com Água" e "Milhas Náuticas"! Um abraço aos blogueiros citados.

"Vouguinha"



A construção do "Vouguinha" de A. Carvalho vai avançando. Por este andar devemos ter Bota-Abaixo lá pró Verão.

domingo, 15 de março de 2009

"Les Nuits"


" There is a poetry of sailing as old as the world" - A. de Saint - Exupéry

sexta-feira, 13 de março de 2009

"Jeff Weaver"










Mais cinco de Jeff Weaver

"Shamrock V"

Tenho um gosto especial por estes colossos, devem ter proporcionado momentos absolutamente ímpares a quem os viveu. Um homem como Sir Charles Lipton, que durante trinta anos correu atás de um sonho que nunca alcançou, gastando milhões e sempre com um fair-play fora do vulgar é um exemplo. Se pensarmos que, entre 1899 e 1930 mandou construir cinco barcos extraordinários, do mais moderno que havia no Velho Mundo para atravessar o Atlântico e ir desafiar os americanos, faz dele um homem especial.

Shamrock V - comp.-36,58m / larg. -5,85 / cal. -4,81m / ano de construção - 1930

quinta-feira, 12 de março de 2009

"Será?"



Será que é este fim de semana que vai terminar a hibernação? Deve ser. Consultei os oráculos, os feiticeiros da meteorologia nacional e até o guru do vento. Ameacei o proa com um Colt 44, arranjei maneira de antecipar um bocadito o descanço semanal e até acendi uma velinha ao S.Pedro. Toca a tirar o barquinho do cabanal, dar-lhe aquela banhoca a tirar uns quantos meses de pó, juntar escotas, velas e restante palamenta há meses espalhada pela casa e descobrir onde param os calçonecos de banho. Será? Deve ser.

terça-feira, 10 de março de 2009

segunda-feira, 9 de março de 2009

"Swans"

"Constitution"


"Reliance"


"Reliance"


"Defender"


"Shamrock"


Todos eles tiveram uma vida curta, alguns apenas duraram uma época. Depois de fazerem o que se esperava deles, eram desmantelados sem apêlo nem agravo. Outros houve que nem a "passerelle" maior da vela tiveram direito a calcar. Grandiosos na água, catedrais erguidas por homens empreendedores, implacáveis nos negócios e para quem uma vitória na "Taça" representava o máximo reconhecimento da pujança económica e técnica do seu país.
Fora de água revelavam linhas de uma elegância invulgar que ainda hoje surpreendem pela sua beleza e fluidez.

domingo, 8 de março de 2009

"Mulher"




Nem todo o corpo é carne... Não, nem todo.
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco... ?

E o ventre, inconsistente como o lodo?...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo...

É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio

vulto da Primavera em pleno Outono...
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!


Presídio - David Mourão Ferreira

sábado, 7 de março de 2009

"Alan Villiers"









Fotografias de Alan Villiers