"8 de Maio.
Ao amanhecer largamos de novo o pano...
Que esquisito mar! Navegamos ao largo, e o Kaimiloa defende-se às mil maravilhas... É um lindo espectáculo a que não nos podemos subtrair: sentimos aumentar em nós uma admiração cada vez mais respeitosa pelo valente barquinho...
Vagas monstruosas elevam-se às vezes pela pela proa e por detrás, avançando para nós, acompanhadas do surdo ruído do rebentar das suas cristas. A cada momento pensamos que irão passar-nos por cima e submergir-nos. Agarramo-nos com força à cabine... e hup! o Kaimiloa levanta gentilmente o seu traseiro e as monstruosas vagas passam sempre a rugir... deixando apenas alguns borrifos na plataforma!
- Sempre o mesmo barulho para nada, digo eu a Tati.
- Se víssemos isto no cinema, responde o meu companheiro, não nos caberia um feijão frade...
No entanto, uma delas submerge-nos antes do anoitecer... e mesmo na altura em que o mar parece começar a cair... Uma dessas vagas, por acaso menos impressionante do que muitas outras, avança, rebentando como tantas... Sem reflectir, cerro para ela os punhos em ridículo gesto de desafio e grito: - Cala a boca palerma.
Apenas soltei o meu insulto, a vaga pareceu aumentar de volume, rebentou com um ruído furioso e caiu-nos em cima submergindo toda a amurada. Se não tivéssemos a presença de espírito suficiente para nos agarrarmos àquilo que estava à nossa mão, o Kaimiloa seguiria o seu cruzeiro sem equipagem...
- Não devia ter dito isso, censura-me Tati, cuspindo a água salgada que engolira. Nunca se deve insultar o mar!"
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Eric de Bisschop in Kaimiloa- De Honolulu a Cannes pela Austrália e pelo Cabo, a bordo duma dupla piroga da Polinésia
1 comentário:
"Nunca se deve insultar o mar"... Grande verdade!
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