"Avistei-o... Dos bons, mesmo à proa! O coração batia-me no peito, sentia as mãos humedecidas. Mas não tinha dúvidas: ele aí estava, enfiado com a roda de proa, trânslúcido nessa meia luz matinal, impreciso qual medusa em águas límpidas, mas tenebroso como qualquer grande promontório. Era uma cadeia de montanhas com os seus picos agudos arranhando as montanhas, com falésias abruptas, colinas gastas e arredondadas, uma sequência de relevos surpreendentes e geométricos. Era de um branco muito puro na solidão absoluta do azul do céu e do mar. A montanha de gelo continha toda a sabedoria e toda a tristeza do mundo, as suas veias azuis denotavam nobreza e grandiosidade, representavam em si a pureza intocável e eterna. Na sua essência, reúne todo o sol do mundo, toda luminosidade do nosso sistema; conhece as tempestades e ignora-as; conhece os céus cinzentos e mantém-se mais vivo que eles; a sua luz estonteante rompe, sempre, vitoriosa, impõe-se, aterroriza ou afaga, e a montanha enorme deriva ao sabor das correntes, lenta, incansável, pacífica, evitando todo o contacto com as terras civilizadas."
Gérard Janichon
fotografia - Cartier Bresson
3 comentários:
Imponentes, estas montanhas... acima e abaixo da linha de água! Nunca vi nenhum "in loco", mas lá chegará o dia. Bonito texto...
Boas Laurus, também gostei muito. Se uma imagem vale por mil palavras, palavras assim valem por mil imagens.
Certo!
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