"Nas férias, aranjara emprego no Clube Naval, onde cuidava dos barcos trabalhando duramente, manobrando o guincho, passando os motores por água doce, arrumando os reboques na garagem. O presidente do Clube, pai de um seu amigo, tratava-o com simpatia, e mestre Zé, que lhe dava ordens num trato rude, era leal e justo.
Nos dias de folga, aceitava o convite do Hélder e do Juca para uma volta no Andorinha do Clube. O velho barco de madeira, com velas de lona, cortava, como uma lâmina, a água espelhada das manhãs, mostrando-se firme na nortada, enfrentando ondas e rajadas com a segurança de um velho marinheiro.
Fora descobrindo a beleza da ria nos longos bordos em frente a S.Jacinto, espraiando o olhar pelas margens semeadas de pinheiros, que continuavam, num fio verde, até ao bico do Moranzel, atracando no Bar do Francês ou no café da Torreira, para um intervalo de descanso. No regresso, quando o vento caía e o céu se enchia de púrpura em poentes de calmaria, traziam o barco à sirga, puxando-o da margem, arranhando os pés no junco por onde fugiam ratazanas. Nesses dias, quando a sorte lhes sorria, apanhavam boleia da lancha da carreira, com a ajuda dos passageiros que pressionavam o piloto, contrariado, a passar-lhes um cabo de reboque.
Aos poucos, foi-se tornando um conhecedor de ventos e marés, hábil em bolinas e cambadelas, velejador cobiçado como proa nas regatas. E no Verão de 65, no Cruzeiro da Ria, conhecera Elisa Medina. A meio de Agosto."
Jorge Seabra in "O cão andaluz"
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
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1 comentário:
"Andorinhas" passeatas e atracagens em bares e cafés, céus azuis de púrpura, trabalho intenso no clube naval, amizade...
Um personagem homónimo e tantas coincidências... Não podia deixar de comentar este excerto. vou tentar adquirir o livro...
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