"-Pai... -O som nem chegou a ser voz. «Pedir o quê? ... Não; não suplicaria uma recusa certa.» Com modos bruscos, falseados, chegou-se ao lume. A mãe entregou-lhe o caldo requentado e ele comeu. Depois, procurou o boné sem pala, atirou para as costas o saco dos aviamentos que o pai lhe estendera, e foi-lhe na cola, sem palavra.
Sob os seus passos entorpecidos, a junça orvalhada do esteiro rangia. O barco, ao largo, parecia um navio fantasma de certa fita do cinema. E as estrelas do Sagui lucilavam no céu, como pirilampos em noite de Agosto. «Tinha sorte o Sagui. Dormia a sono solto, fazia o que lhe dava na gana... Enquanto ele, a horas mortas, morto de sono, ia a caminho da prisão.» O frio enregelava-lhe o corpo e a vontade.
-Pega nos remos pra aquecer- ordenou o pai
Poisou os aviamentos, sentou-se, e a bateira deslizou mansamente, direito ao bote, embora nos braços vencidos do Gineto faltasse jeito e ânimo. Nos toletes, os remos feriam as águas e o silêncio- gemiam por ele... Por fim atracaram. O rapaz pôs o pé no bote; mas o olhar ficou-lhe cá fora, em busca da liberdade perdida. Todo o seu ser cativo, menos os olhos."
Do livro "Esteiros" de Soeiro Pereira Gomes
segunda-feira, 12 de maio de 2008
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3 comentários:
Quem dansa o Bolero no Les uns et les autres é um tal Jorge Donn, na pele do Nureyev, de facto.
A ventosga da Povoa até Aveiro esteve excelente, primeiro em popa arrasada, depois, a meio, rodou para NW e deu um largo de luxo, nos 20 a 25 nós, a dar pontas de 11 nas surfadelas.
O Mar ficou cavado e a entrada na Barra foi de luxo.
Para além disso, no principio do mês de Junho vamos até à Berlenga.
Está convidado.
Caro Comandante,desde já os meus agradecimentos pelo convite.Vou fazer os possíveis por poder ir.De facto,tem toda razão,não é o Nureyev.Pós comentário,em conversa com um amigo ele também me disse o mesmo,não me disse o nome mas que,á época era um bailarino da companhia de Maurice Béjart.
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