"Amanheceu um sol de 2 de Julho de tão brilhante e cálido, o céu despejado, o mar como um lençol de aço reluzente cortado pelo orgulhoso Ita de altaneira proa.
Quando o comandante saiu do banho e encontrou o café da manhã servido na cabine, o moço de bordo muito solícito a sorrir-lhe, novamente estava de crista erguida e sorvia o ar marinho como nos tempos de suas travessias nas rotas da Ásia e da Austrália. Vestiu a farda branca, trauteando a melodia daquela canção da bailarina Soraia, uma que falava em mar e marinheiros.
Espalhava-se pelas salas, tombadilhos e corredores a característica população daqueles Itas que durante tantos e tantos anos subiram e desceram a costa brasileira, de Porto Alegre a Bélém do Pará. Quando os aviões ainda não cruzavam os céus aproximando as distâncias, encurtando o tempo e retirando às viagens toda a sua poesia e o seu encanto. Quando o tempo era mais lento e menos desperdiçado, menos gasto na sofreguidão inútil de chegar quanto antes, numa avidez de viver tão depressa que transforma a vida numa pobre aventura sem cor e sem sabor, uma corrida, um atropelamento, um cansaço."
em "Os velhos marinheiros" de Jorge Amado
quinta-feira, 15 de maio de 2008
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