terça-feira, 19 de janeiro de 2010

"A Doida de Rolecha"


" - Não é tão doida como isso, mas a loucura aparece de vez em quando... Há quem diga que aparece com a Lua - explicou-me Barria, enquanto eu remava, levando a canoa para o local onde íamos recolher marisco.
À medida que nos aproximávamos, a silhueta da mulher destacava-se como um rochedo sombrio e vivo à beira da praia. Usava um vestido preto e coçado, estava acocorada e, de vez em quando, atirava para a água pedrinhas que tinha no regaço, num gesto infantil e equívoco, que podia ser interpretado como um apelo ou um adeus. Era semelhante a uma camponesa atirando grãos à criação.
- Está a dar de comer ao mar - disse Barria..
- O quê? Pedrinhas?
- Para ela são migalhas que todas as manhãs atira ao mar, é o pequeno-almoço do marido...
A princípio, julguei que Barria troçava de mim. Ou, então, que também ele era um pouco poeta, ou um pouco doido, também ele...
-Uma mulher casada com o oceano! - repliquei no mesmo tom."
Francisco Coloane in Naufrágios

2 comentários:

Laurus nobilis disse...

Eis um autor de que gosto bastante. Já me fez "velejar" muito por esses mares fora, ao ler os seus livros...

almagrande disse...

Boas Laurus, comecei-o há pouco tempo mas gostei bastante deste conto.