quinta-feira, 29 de maio de 2008
domingo, 25 de maio de 2008
"Bico da Murtosa"
quinta-feira, 22 de maio de 2008
Olin J. Stephens
terça-feira, 20 de maio de 2008
Enquanto andei por Pardilhó a acompanhar a construção do Almagrande, fui tirando fotografias sem outro intuito senão o de poder recordar a evolução da construção do barco. No entanto, algumas vezes passou por lá o meu amigo Quim Marques, competentíssimo proa da embarcação, munido da máquina de filmar. Fotos e filme andaram esquecidos durante uns meses, até que, durante um fim de semana do último inverno, possivelmente sem nada melhor para fazermos, ajudados por um terceiro elemento,o Moreira, crítico de cinema com elevada reputação no vale do Antuã e arredores, juntámos algumas das fotos e partes do filme em DVD. Ainda em produção, está no entanto quase pronto..foi um parto difícil. O meu obrigado ao Quim, o homem das máquinas e ao Moreira, o Bergman da "Praça do peixe". Aqui fica uma pequena amostra..
"Apontamentos"
Os longes de água são emoldurados por um debrum delgadinho - topo de planície rasa povoada de casa alapadas - e têm-se a sugestão de que a terra se envergonha e se humilha perante a imensidade da laguna, esfumando-se e diluindo-se no horizonte de encontro ao perfil violeta dos montes das distâncias...
Em certas manhãs, doiradas pelo sol nascente, a Ria parece toda um espelho onde, apenas, um trémulo de evaporação - ténuo e vibrátil - põe um vestígio de movimento ritmado.
E, então, os malhadais, os montes de sal, os palheiros exíguos e pintados a zarcão, duplicam-se, invertidos nas águas quietas onde , de vez em quando, uma gaivota, maleabilíssima e ágil, raspa uma tangente quase imperceptível.
As pálpebras cerram-se sobre a pupila magoada por esta duplicação da luz que se remira no espelho da água e, no silêncio inundado de sol, o chap chap de uns remos, ou o golpe de uma vara que empurram o barco que desliza, põem uma nota fugidia de onomatopeia."
"Apontamentos para um trabalho sobre a paisagem de Aveiro" de Dr.Frederico de Moura
segunda-feira, 19 de maio de 2008
"Bluesy"
sexta-feira, 16 de maio de 2008
Les Nuits
Acho que aprendi a gostar de Água Castello enquanto ia ouvindo o meu pai e os amigos em longas noites de cavaqueira, eles bebendo uns scotchs e eu, escorropichando o resto das garrafas de água e em silêncio, sem ousar participar das conversas, ouvindo e aprendendo. Em tempos li uma entrevista ao Miguel Sousa Tavares em que ele dizia, por outras palavras, que acordar com a mãe andando pelos corredores da casa ás duas da manhã a declamar poemas não seria uma coisa normal para o comum dos adolescentes. Afortunados aqueles que para além do conforto básico, elementar, lhes é dada a possibilidade de algo mais. Assim, em troca dos meus serviços de barman incipiente, lá ia ouvindo relatos de caçadas ás perdizes nas planuras alentejanas, nas serranias das beiras ou nas fragas doTejo,em que elas "de bico abaixo, pareciam balas",de noites escuras como breu ao candeio na ria, com um olho no peixe e outro nos "marinheiros". Estórias de ventos, de barcos, de cruzeiros da ria, das pessoas e dos seus barcos.
Nortadas rijas e Suladas impiedosas, a transformarem a ria em mar desfeito e a fazerem das travessias prós patos em Monte Farinha ou na Ilha dos Ovos, aventuras merecedoras de serem revisitadas.
Relatos de caça grossa em Angola, estórias de guerra, do encanto de Luanda e das pessoas que por lá se cruzavam. Eu ficava maravilhado com estas noites, autênticos serões da província que alimentavam a minha imaginação e me faziam sonhar.
Falava-se de livros, do Eça, Camilo, Aquilino, Torga e tantos outros, ouvia-se Buarque, Jobim, Brel ou Pink Floyd.
Mas voltava-se sempre á ria, fosse ao errante vôo das narcejas nas praias de junco de Pardilhó ou ás manhãs geladas atrás das Galinholas, de bateira pelos labirínticos canais de Canelas, ou aos duelos entre o "JOÍNHA" e o "ASA NEGRA" na regata da ria.
No fundo, a ria unia, como continua a unir, uma série de pessoas que se separam pontualmente, mas a que todos voltam, quem é da borda d'água raramente deixa de o ser.
quinta-feira, 15 de maio de 2008
"Velhos Marinheiros"
Quando o comandante saiu do banho e encontrou o café da manhã servido na cabine, o moço de bordo muito solícito a sorrir-lhe, novamente estava de crista erguida e sorvia o ar marinho como nos tempos de suas travessias nas rotas da Ásia e da Austrália. Vestiu a farda branca, trauteando a melodia daquela canção da bailarina Soraia, uma que falava em mar e marinheiros.
Espalhava-se pelas salas, tombadilhos e corredores a característica população daqueles Itas que durante tantos e tantos anos subiram e desceram a costa brasileira, de Porto Alegre a Bélém do Pará. Quando os aviões ainda não cruzavam os céus aproximando as distâncias, encurtando o tempo e retirando às viagens toda a sua poesia e o seu encanto. Quando o tempo era mais lento e menos desperdiçado, menos gasto na sofreguidão inútil de chegar quanto antes, numa avidez de viver tão depressa que transforma a vida numa pobre aventura sem cor e sem sabor, uma corrida, um atropelamento, um cansaço."
em "Os velhos marinheiros" de Jorge Amado
terça-feira, 13 de maio de 2008
segunda-feira, 12 de maio de 2008
"Esteiros"
Sob os seus passos entorpecidos, a junça orvalhada do esteiro rangia. O barco, ao largo, parecia um navio fantasma de certa fita do cinema. E as estrelas do Sagui lucilavam no céu, como pirilampos em noite de Agosto. «Tinha sorte o Sagui. Dormia a sono solto, fazia o que lhe dava na gana... Enquanto ele, a horas mortas, morto de sono, ia a caminho da prisão.» O frio enregelava-lhe o corpo e a vontade.
-Pega nos remos pra aquecer- ordenou o pai
Poisou os aviamentos, sentou-se, e a bateira deslizou mansamente, direito ao bote, embora nos braços vencidos do Gineto faltasse jeito e ânimo. Nos toletes, os remos feriam as águas e o silêncio- gemiam por ele... Por fim atracaram. O rapaz pôs o pé no bote; mas o olhar ficou-lhe cá fora, em busca da liberdade perdida. Todo o seu ser cativo, menos os olhos."
Do livro "Esteiros" de Soeiro Pereira Gomes
sábado, 10 de maio de 2008
Les nuits
Agora o barco encalhou e a água está dourada até onde a vista alcança. Deixo-me ficar, olhando para o fundo da areia. A meu lado há um verde que nenhuma paleta pode dar, um verde vivo, um verde trespassado da luz que se coa pelos canaviais e todo se arrepia à superficie do veio, ao mexer das quatro tábuas do barco, para enfim parar absorto no silêncio. Bóia aqui nestas águas uma alma entontecida, humilde e tímida tão ténue que pode desaparecer num sopro de um momento para o outro.Eixiste mas não se sabe bem que existe. É quase nada. Um fio de oiro, silêncio, um reflexo de luz...Andem devagarinho com o barco - não vamos nós assustá-la."
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Começam a luzir no céu e na ria ao mesmo tempo miríades de estrelas. Vida livre dalguns dias, de que fica um resíduo de beleza que nunca mais se extingue.
É a ria também sítio para os que querem descobrir novas terras à prôa do seu barco e para os que amam a luz acima de todas as coisas. Eu por mim adoro-a.
É-me mais necessária que o pão. E é esse talvez o ponto da nossa terra onde ela atinge a beleza suprema. Na ria o ar tem nervos. A luz hesita e cisma e esta atmosfera comunica distinção aos homens e às mulheres e até às coisas, mais finas na claridade carinhosa, delicada e sensível que as rodeia. A luz aqui estremece antes de pousar..."
Do livro "Os Pescadores" de Raul Brandão
"O Velho e o Mar"
-Boa sorte, meu velho.
-Boa sorte - respondeu o velho. Enfiou as amarrações de corda dos remos nos toletes e, debruçando-se contra a resistência das pás na água, começou a remar na treva para fora do porto. Havia barcos de outras praias saindo para o mar, e o velho ouvia-lhes o mergulhar e o impulso dos remos embora não pudesse vê-los, com a lua já posta atrás dos montes.
Às vezes,num barco alguém falava. Mas a maior parte dos barcos ia silenciosa, a excepção do mergulhar dos remos. Dispersaram-se, uma vez chegados à embocadura do porto, e cada qual aproou à parte do oceano em que esperava encontrar peixe. O velho sabia que ia muito para o largo, e deixou para trás o cheiro de terra e remou para o lavado e matinal cheiro do oceano."
Ernest Hemingway in " O Velho e o Mar "
quarta-feira, 7 de maio de 2008
"Velsheda"
Construído em 1933 por Camper & Nicholson para W.L.Stevenson. Foi o único dos 10 J-class construídos de raíz a ser feito sem o intuito de participar na Taça América.Entre 1933 e 1936 participou e venceu inúmeras regatas em Inglaterra contra barcos como "Shamrock v", o iate real "Britannia" ou "Endeavour". Nos anos 90, jazia em Gosport, depois de algumas tentativas falhadas de recuperação por falta de verbas.Entre 1996/97 foi recuperado pelo actual proprietário sendo agora um dos que participam nas principais regatas de clássicos, fazendo recordar velhos duelos.
segunda-feira, 5 de maio de 2008
sexta-feira, 2 de maio de 2008
Vouga "Cuca"
"I want a Reliance"
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Les Nuits
Numa reverencial vénia à "Alma mater";
"Vou com ela viajando Havaí, Pequim ou Istambul
pinto um barco a vela branco navegando,
é tanto céu e mar num beijo azul.."