quarta-feira, 29 de setembro de 2010
terça-feira, 28 de setembro de 2010
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
domingo, 19 de setembro de 2010
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
"Tartan"
"A aventura escolhe os intervenientes ao acaso, e a estes não resta outra escolha senão tentar a sobrevivência. Içam-se velas e arreiam-se bandeiras nos mastros que apontam céus sem fronteiras. Não há sistema de navegação por satélite, sondas ou cartas náuticas, mas apenas um motor avariado ligado à vontade de partir.
Mantém-se uma agulha magnética desorientada entre a fluorescência dos velozes golfinhos que se iluminam no âmbar atlântico. A esfera armilar, obsoleta e enferrujada, inveja as imponentes baleias, que teimam em dominar todos os pontos cardeais do reino verde-esmeralda. O velho sextante, reformado dentro de uma gaveta, já não acompanha o ritmo de um comum rádio transístor que se intromete, com «engenho e arte», entre a família dos instrumentos de navegação.
As antigas naus deixam as águas à mercê de um veleiro que tenta descobrir o norte, escapando entre os novos piratas que ainda assombram as mais frágeis embarcações. Os velhos marinheiros , agora sepultados em livros de História no capítulo dos Descobrimentos, partilham em silêncio a aventura de seis jovens que fogem rumo ao desconhecido, entregues aos mesmos caprichos do vento e das correntes, com o mesmo medo de morte e com a mesma ânsia de vida.
Há apenas uma indecifrável nova terra à vista a entrar pela proa do tempo e, contudo, na azáfama das manobras a bordo de um tempo presente, não há tempo para afundar o pensamento no futuro.
Por fim , recupera-se o passado encalhado no cais de partida.
Lança-se a âncora às palavras, aos sons, aos cheiros, aos sabores e às imagens, amarrando-se o olhar à popa do tempo. Com todos os sentidos alertas, de norte para sul, no cais de chegada, revisita-se o diário de tinta permanente invadido pelas vagas, e a aguarela ganha novas cores num imenso universo de memórias. A viagem acaba por fundear neste quadro, depois de se evadir da paleta, numa revolução de cores oferecidas à tela. É aí que se atracam todas as metáforas, entre a terra dos sonhos e dos pesadelos."
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Excerto de "Tartan"- As velas da liberdade, por Nuno e Pedro Silveira Ramos
Fotografias de Alan Villiers
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
"Águas de Setembro"
Aqui o bloguinho anda meio desamparado, o escriba, ainda em depressão pós férias tem parado pouco por aqui. Tirando uma semanita de barcos e navegações muito boas pela Costa Nova, onde fui muito bem recebido no CVCN, o restante tempo soube a pouco, por desencontro com as pessoas que habitualmente chateio para umas voltas pela Ria. Dessa primeira semana pelo lado sul da Ria, ficaram momentos excelentes de vela, de convívio, a bordo do meu ou de outros, trocas de impressões, na água ou em terra, com os barcos como pano de fundo.
Em férias, o azul do céu é ligeiramente mais azul, a maresia cheira ainda melhor, alivia-se o ritmo e esquecem-se rotinas, vive-se, na medida que o corpo andava a pedir.
É óptimo o recostar das costas naquele redondo do poço, com vento manso, numa passeata pelo sereno do final de tarde, que se prolonga pela noite a ouvir o marulhar da água de encontro ao casco.
Num dia chuvoso o barquinho voltou pró buraco, deixei-o secar-se e atamanquei a reparação de duas ou três esfoladelas nos vernizes, tapei duas ou três esmocadelas na pintura, arranhões que ficam de dias mais vivaços.
Por estes dias vai voltar à Costa, prá regata de apoio à Liga Portuguesa Contra o Cancro, antes da migração pra sul, para as jornadas no Tejo.
Apesar da logística algo trabalhosa, vai ser bonito ver os "Vougas" em Lisboa.
O cenário é grandioso para uns bordos.
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
"Por todos os mares"
"Nenhum homem se tornará um marinheiro se não tiver a força de vontade necessária para se meter numa prisão; porque estar a bordo é estar numa prisão, com a possibilidade de ser afogado(...). Um homem numa prisão tem mais espaço, melhor comida e frequentemente melhor companhia."
Samuel Johnson (1709-1784) sugeria assim o quotidiano o marinheiro no século XVIII. Passados 200 anos, a sua afirmação continua muito actual. Mas o que levará o homem de hoje a voluntariar-se a tais condições?
O homem sempre enfrentou desafios, mas como se não lhe chegassem os desafios naturais, alguns homens criaram outro tipo de desafios a si próprios. A Whitbread é, naturalmente, um desafio. Pelo simples facto de contornar o planeta azul ser um desafio tenaz. Estes homens decidiram fazê-lo através do Southern Ocean - o rei de todos os oceanos.
Partindo de Inglaterra, descendo o Atlântico, contornando o continente Antárctico e regressando ao ponto de partida após dobrar o cabo Horn, estes marinheiros do século XX continuam a desbravar as zonas mais inóspitas do nosso mundo. Porque, embora os meios tecnológicos tenham evoluído, o mar continua tão devastador como outrora.
No dia 2 de Setembro de 1989 vivi o dia mais emocionante dos meus 28 anos de idade - a partida da quinta edição da Whitbread Race. Passados 34 dias voltavam a correr-me lágrimas de comoção ao vencer a primeira etapa por uma margem de 76 minutos!
No dia 25 de Fevereiro de 1990 era-me cravada na orelha esquerda uma argola de ouro. Estava num dos lugares mais insólitos e respeitados pelos marinheiros - ao largo do cabo Horn, cruzando do oceano Pacífico para o Atlântico.
A 27 de Maio cruzava vitoriosamente a linha de chegada em Inglaterra, conquistando assim o cobiçado Troféu Whitbread.
Mas, voltando à questão inicial -o que nos leva a enfrentar estes desafios? Por que renunciamos à família, ao futuro, ao emprego, à terra firme?
Deixar como memória da nossa passagem pelo mundo um traço ao redor do planeta. Mesmo que essa esteira demore meses para concluir e cada um dos seus troços não dure mais do que breves instantes?
Excerto do prefácio de João Cabeçadas ao livro Por todos os mares, de Nysse Arruda
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