Sempre que posso gosto de passar pela Ribeira da Aldeia, fica-me perto de casa e do local de trabalho. Muitas vezes saio do trabalho e vou até lá, tenho a Ria ali ao lado e o estaleiro dos Mestres carpinteiros que me fizeram o Almagrande, sou a terceira geração pra quem eles construiram barcos. É um oásis de calmaria, um sítio que parece ter parado no tempo e, para além da admiração que tenho por eles como profissionais, há uma amizade que me faz passar por lá a vê-los, a saber se estão rijos e às vezes conversar um bocado.
Sempre têm pachorra para ir respondendo às minhas perguntas, sejam elas relacionadas com a construção naval, com estórias de barcos e homens que foram passando por lá ou até dos seus próprios percursos de vida. Por vezes não há conversa, só trabalho, e fico por ali a observá-los em silêncio, um silêncio quebrado apenas pelo assobio do Mestre Zé que mais parece o vento Norte a entrar por uma frincha do esburacado armazém.
Hoje a tarde estava bonita e pensei em fazer-lhes a visita habitual mas ao chegar dei com o estaleiro fechado, voltei para trás e parei no centro para um café, afixado na parede da entrada um papelucho anunciava a morte do Mestre Diniz.
Morreu com 84 anos, uma vida dedicada aos barcos, primeiro aos moliceiros e bateiras e depois a outros de utilização mais desportiva ou de lazer.
Vou ter saudades dele mas como me dizia hoje o Mestre Zé, com a voz embargada por sessenta anos de vivências em conjunto, "É assim a vida...".
3 comentários:
È por essas e por outras a que parecidos e em fibra não podem ter a mesma alma. São feitos em moldes e em série, por qualquer um e sempre iguais....sem história!.
Boas Conde, eles costumavam dizer que o meu seria o último a ser feito lá no estaleiro. Não deviam estar muito longe da verdade. Como me costuma dizer o Mestre Zé; "Isto agora é pra ir passando os dias da vida."
Deixo aqui umas palavras de homenagem a Mestre Diniz, que como sabemos era homem de poucas palavras. Faço votos para que a sua família e o amigo inseparável José da Silva ultrapassem o mais possível a dor da ausência.
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