segunda-feira, 27 de julho de 2009

"Os Segredos do Mar Vermelho"


"Uma vez passada a barra, depois do abrigo de areia através do qual se prolonga a península do farol, o mar é muito bravo, completamente negro na noite opaca, rolando para norte as suas vagas fosforescentes que parecem fugir, empurradas pela fúria do vento, e são semelhantes a enormes cabeleiras lívidas despenteadas.
Nestas circunstâncias, apenas me resta uma saída: procurar maneira de apanhar com o vento pelas costas. Procuro, então, orientar o navio de forma que o enorme vagalhão que o empurra lhe passe por baixo. Por um instante, o navio parece recuar sobre o flanco oscilante da montanha de água, até ao fundo de uma ravina imóvel onde o vento mal penetra. Depois, a crista de espuma da vertente oposta torna-se mais branca por detrás do navio que se agita no topo, como se estivesse prestes a afundar-se. O navio eleva-se, com a proa apontada para o fundo, prestes a despenhar-se no abismo para depois ser arremessado impetuosamente para fora pela massa de água. Mas o demónio da vaga que o perseguia volta a arrastá-lo, e a espuma ameaçadora do seu topo abate-se à volta dele.
Neste momento, e durante cerca de um segundo, toda a força do mar está a meus pés; depois, a proa volta a elevar-se e caímos novamente para trás, entre novas muralhas de água negra, raiada de branco."
Henry de Monfreid in Os segredos do mar vermelho

2 comentários:

Laurus nobilis disse...

Para além de escritor,
este senhor deve ter sido um dos últimos "piratas românticos" que existiu...

almagrande disse...

Boas Laurus, ando de volta das aventuras dele. Até agora estou a gostar bastante.