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"Sol de oiro. Na frente da praia três muralhas de ondas que ninguém podia atravessar. E para lá dessas ondas que saltavam e corriam, em bandos de cavalos brancos, o mar liso como vidro, com aquela cor de pescarejo que não engana: -
«Houvesse um portinho de abrigo, um muro que nos defendesse, já a fome era menos. Mas nem uma pedrazinha mexerem... E a gente, quando ganha, paga impostos como os mais...»
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Os pescadores olhavam, calculavam os «rasos», os intervalos das ondas, para verem se dariam tempo, se podiam arriscar... Mas viravam costas, desanimados. Alguns metiam-se para o fundo escuro das tabernas onde ainda tinham crédito, pondo à mão a garrafa que levavam à boca; outros juntavam-se dentro dos barcos em seco nas ruas e nas praças.
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Raros grupos de mulheres, de capa pela cabeça, encostadas às parede, olhavam o mar, onde, ao longe passavam os barcos que vinham de qualquer terra do sul, onde havia uma doca, «um portinho de abrigo...»
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Os rapazitos, que costumavam encher a praia com o seu alarido e bricadeiras, tinham desaparecido. Só um ou outro vagueava sem companheiros."
Fotografias -Estúdio Horácio Novais
Escritas - Branquinho da Fonseca
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2 comentários:
Gosto!
Adorei.
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