domingo, 28 de fevereiro de 2010
sábado, 27 de fevereiro de 2010
"À vol d'oiseau"
Aqui o bloguinho, situo-o algures entre Braga e Nova Iorque, como o outro catalogava a sua música, tanto sou sensível às 600 milhas cumpridas em 24 horas pelos melhores da Volvo Ocean Race como acho de uma beleza notável um moliceiro ou uma bateira a bolinarem com um vento fresco de noroeste. A destreza das tripulações é de se lhes tirar o chapéu, pela forma como tiram tudo ao barco, pela atenção constante nas afinações, pela escolha da equipa e pela coragem. A competição por algo que, a maior parte das vezes , não vale cinco tostões, cria sensações nos intervenientes que são impagáveis, o prazer pelo prazer. A afinação do barco, o metro que se ganha, o grito de amuras que vem do barco ao lado, a constante tentativa de optimizar o desempenho consoante as condições, faz com que alguns gostem da competição até morrer. É a emoção do barco, do vento quase sempre inconstante, que nos faz ganhar ou perder metros sem que saibamos muito bem como, que nos dá vontade de morder o próprio fígado por não termos escolhido determinado bordo, um olho no nosso e outro no barco ao lado. Pra quem anda na Ria contra vento, aquele pequeno ângulo quase imperceptível, pode fazer a diferença, muita mesmo.
A competição é tanto melhor quanto mais renhida for, metro a metro, centímetro a centímetro se possível, ganhar sem oponência deixa um certo amargor de boca.
Uma das melhores, talvez a regata que maior prazer me deu foi uma com um 470 de uns espanhóis, de férias, puramente veraneantes, e que com um sorriso que não precisa de grandes explicações desafiou-nos pra dois ou três bordos revisitáveis.
Durante meia hora andámos por ali a jogar ao gato e ao rato, atrás de não sei o quê, apenas pelo prazer de ganhar um metro ao outro.
Não os cheguei a conhecer, mas gostava.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
"Horn"
"O vento sopra de oeste, e levanta mau tempo, mar grosso a lembrar o Índico, de que se tinham já esquecido as brutalidades. A 35 ou 40 nós, o vento empurra o Grand Louis para o Horn, os aguaceiros não deixam ver para além da ponta do nariz, o mar engrossa, torna-se cavado, o tempo cinzento e desagradável. De súbito, entre dois paspalhões, Michel Vanek distingue duas sombras lembrando rochedos, a emergirem da névoa: é a ilha de Diego Ramirez, isolada, a sudoeste do Horn. Calhaus desérticos, que são deixados a bombordo, passando à frente. O vento refresca mais: 45 nós , com rajadas de 55. O barco segue a uma velocidade de dez nós. Os fundos desceram para a batimétrica dos cem metros, e sente-se que as vagas enormes se adelgaçam, crescem, e quebram, derramando-se em espuma, que desenha na água fibras esticadas por acção do vento. De súbito, no meio da chuva, o Horn! O marinheiro do leme tem de ter mais pulso, mais atenção, redobrar de cuidados: duas ou três vagas ameaçadoras exigem um golpe de leme a provocar uma guinada rápida, para colocar o barco na perpendicular da crista que quebra. A terra aproxima-se rapidamente. O homem de leme vai ligeiramente para a orça: este morro cheio de prestígio todos o querem ver um pouco mais de perto...
Assim que o cabo é dobrado, o vento cai, o mar recompõe-se. No íntimo, cada um medita sobre as impressões de um dia cheio de emoções. Jantar com champanhe e foie gras . O Horn é bem merecedor duma festa."
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Jean-Michel Barrault
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
sábado, 20 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
"Les Nuits"
domingo, 14 de fevereiro de 2010
"Dois anos a navegar"
Em dia de S. Valentim o Oracle lá levou a Taça de volta prás américas depois de uma tareia monumental dada à rapaziada do Alinghi, que devem estar neste momento ligeiramente chateados de, há uns anos, terem despedido o Russell Coutts.
Em dia de aniversário aqui do blogue fica uma fotografia do "Defender", vencedor em 1895.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
"Vela"
"Embora na vela haja muitos elementos que escapam ao nosso controlo, para mim, é daí que vêm a excitação e os desafios que não encontrei em nenhum outro lado. A vela pode ser considerada um desporto complicado, inacessível para muitos, mas não se resume a clubes náuticos e barcos caros. Trata-se de sair para a água, de ver a natureza de um outro ponto de vista, de descobrir uma sensação de liberdade e, com sorte, de nos sentirmos realizados com aquilo que fazemos. A vela pode ensinar-nos muitas lições de vida, a trabalhar em equipa, a perseverar perante as adversidades, a sermos empenhados e, acima de tudo, a termos confiança nas escolhas que fazemos."
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Hellen MacArthur
"Bom Carnaval"
Quem me vê sempre parado, distante garante que eu não
sei sambar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu tô só vendo, sabendo, sentindo, escutando e não
posso falar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu vejo as pernas de louça da moça que passa e não
posso pegar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Há quanto tempo desejo seu beijo molhado de maracujá
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
E quem me ofende, humilhando, pisando, pensando que
eu vou aturar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
E quem me vê apanhando da vida duvida que eu vá
revidar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu vejo a barra do dia surgindo, pedindo pra gente cantar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada, quem dera gritar
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Quando o carnaval chegar - Chico Buarque
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
"AC 2010"
Começa hoje e se tudo correr bem só durará dois dias, a edição 33 da America's cup, a prova a ser disputada entre dois egos gigantescos, o do farmacêutico do Alinghi e o do informático do Oracle. Andaram durante meses nos tribunais a discutir não sei muito bem o quê mas no fim parece-me que a montanha pariu um rato, na prática o que esta rapaziada pariu foram dois mostrengos parecidos com barcos que, a meu ver não passarão de um erro crasso a servir de exemplo no futuro. Ouvi recentemente o homem do Alinghi dizer que os dois mostrengos eram os novos J-class, visualmente é altamente discutível. Os gostos discutem-se? Claro que se discutem.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
"Viúvas de Vivos"
"Iria, embora a alma lhe presagiasse más coisas. Não queria que a mulher o julgasse poltrão e que, no caso de algum companheiro enriquecer, ela tivesse que invejar, por sua culpa. O destino mandava? Pois que se cumprisse.
E lá se resolveu.
Com ele, iam todos os companheiros daquela aventura de resgate. Nem uma só lágrima pelas suas faces tisnadas. A palidez de todos vincava-a inda mais a luz mortiça dum candeeiro de petróleo que espalhava um cheiro acre que se misturava à maresia e às emanações da moira do velho barco. João Frade, de cachimbo fumegante, ordenava as manobras. Um moço distribuiu café e aguardente, por causa do frio. Quando iam já bastante afastados da barra, o Tarolho pôs-se a cantar e a dedilhar a guitarra. Um fado triste. O barco baloiçava, mas corria veloz para o desconhecido, na esteira de tantos outros.
O Inácio foi até à amurada. Ia-se sumindo a luz do farol lá ao longe, num aceno. Mas o barco, de velas pandas, cortava as ondas que escumavam, na quilha, como de raiva. Já não via o farol: tinha-se cortado todo o contacto com a terra, a sua terra. Foi então que sentiu a consumação de todo o seu drama, o desabar de todos os sonhos que ia substituir por outro, maior na verdade, mas tão vago e incerto que talvez bastasse um um ligeiro sopro do destino para o desfazer, como a viragem fazia ao fumo do seu cigarro."
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Joaquim Lagoeiro in Viúvas de Vivos
Fotografias de John Collier, tiradas entre pescadores Portugueses emigrados nos E.U.A. - 1942
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