sábado, 15 de novembro de 2008

"Les Nuits"

Anda, prás bandas de lisboa, novela pitoresca que toda a gente adivinha o final. Não conhecia este texto, escrito em 1961, de grande actualidade.


" Pomposo,ponderado, primoroso,
Pacheco passeia pelo parque.
Pretende parecer paternal.
Procura, porém, prazeres proíbidos,
possuído por demónios pornográficos.
Persegue pequenas púberes
(possivelmente pianistas precoces?
professoras primárias potenciais?
provincianas pobres? plutocratas, porventura?
pulmonares predestinadas? princesas, por partida?
pragmatistas praticantes? protagonistas prévias?) ,
Propiciando presentes pacholas,
Pretenso purista, pseudopuritano,
prodigaliza pirolitos, «popcorn», pinhões;
pèrfidamente, provocante,
patenteia porcos postais parisienses.
Pestisca prazenteiro,
puxando pelas pratas,
pressurosamente pagando.
Propõe patinarem (pudera ! ).
Perturbado pelos pulos, pelo pagode,
Pacheco piora, perde placidez, prevarica:
precipita-se, pletórico, purpúreo, priápico
palpando pernas polpudas.
Pessoas presentes percebem perfeitamente-
pedem , pois , para prender Pacheco.
Perguntado por prestimosos populares,
por pais presumivelmente profanados,
por polícias prontificados,
por paisanas proficientes,
Pacheco protesta, prolixamente,
proclama protecções proeminentes
(permitindo pressupor previlégios) ,
promete peremptòriamente promoções.
Previdentemente, prova precedentes probos.
Populares, pais, polícias, paisanas
passam por parvos - porque pedem perdão,
Pacheco prossegue.
Protejamos, portanto, pueris premícias,
pessoalmente prevenido:
Prudência, pais portugueses!
Pelos parques perpassa,
pomposo, ponderado, primoroso,
Pacheco - perigo público."

8 comentários:

Anónimo disse...

É óptimo o texto, e o blog, que decobri há pouco tempo. Mas falta o autor do texto... As fotos que não têm autor são tuas?

almagrande disse...

O texto foi publicado sem autor numa publicação meio satírica do ínicio dos anos sessenta de nome "Almanaque",quanto às fotografias, umas são minhas (as piores) e outras que vou conseguindo na net, muitas sem conseguir identificar o autor.

Anónimo disse...

Pena não haver autor, pois quem escreve este tê-lo-á feito mais vezes e muito bem, certamente.
Duvido que as piores fotos sejam tuas, mas percebo a gentileza. Não conhecia Zacarias da Mata. Esta última foto da ria e o teu texto são bem o espelho dos borda d´água. Pelo menos desta água.
Parabéns, mais uma vez pelo bom gosto.

almagrande disse...

Maffie, obrigado pelos comentários.

garina do mar disse...

está ali um "demónios" fora de sítio...
foi censura?!?

almagrande disse...

Olá Garina,realmente também estranhei mas seria incapaz de alterar uma vírgula que fosse a qualquer texto. Será a excepção que confirma a regra?

luís.r disse...

O texto é de José Sesinando (1923-1995). E não são "demónios" e sim "propósitos".

almagrande disse...

Luís, obrigado pela achega. De onde copiei estava assim e não tinha a autoria. Vou corrigir.