domingo, 30 de novembro de 2008

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

"A Lâmpada de Aladino"


"Platt. Nunca cheguei a falá-lo com desenvoltura, mas encantava-me ouvi-lo quando o velho Kurt o fazia com os camaroeiros de Lizt. Perguntava-lhes pelos seus barcos, pelo humor imprevisível do mar, pelos perigos que espreitavam nas águas frias da Gronelândia e que aqueles homens esconjuravam com risos estentóreos e uns bons goles de cerveja.
O velho Kurt amava tudo o que se relacionava com o mar.
Sempre quisera ser marinheiro, não da Marinha de Guerra mas da outra, a dos nostálgicos capitães que bebiam uns copos em Hamburgo, nos bares próximos das casas de marinheiros de Landungsbrücken. Aí se fumavam todos os tabacos do mundo; ao aroma picante do bom cavendish juntava-se o do rum, o da cerveja e o das batatas com mel oferecidas gratuitamente aos fregueses. Os velhos capitães falavam batendo nas mesas para enfatizar os seus «que o diabo leve pelos fundilhos todos esses filhos da puta que puseram os navios com bandeiras de conveniência».
Então o velho Kurt batia também na mesa, gritava o noch'ne com o qual oferecia mais uma rodada aos marinheiros, pois já os predispusera a contar as suas aventuras por todos os mares. E ao aroma de tabaco, rum, cerveja e batatas, juntavam-se os aromas das tempestades, dos naufrágios, das noites de vigia na solidão da ponte enquanto atravessavam o Atlântico ou o temível Cabo Horn, até que algum dos velhos navegantes soltava uma gargalhada antes de dizer: «tudo isso é muito bonito e muito iteressante, mas eu nas Malvinas dei uma voltinha com uma senhora kelper respeitosamente casada com um senhor kelper e posso jurar que fazia uma óptima tarte de abóbora»."
...

"Desse tipo de marinheiro quis ser o velho Kurt, mas avida atravessou-se-lhe por diante e ele conformou-se em ler Conrad, Melville, Stevenson, a amar fervorosamente Magroll, o gajeiro a personagem de Álvaro Mutis a que chamava seu grande amigo quando falava com outros navegantes na sua casa sempre aberta à gente do mar. Eu também sentia o eco da sua voz, mas os meus ouvidos só estavam atentos às palavras de Silke. Tinha o hábito de falar olhando-me fixamente nos olhos e eu estremecia com a certeza do naufrágio inevitável no mar azul e profundo das suas pupilas."

Luis Sepúlveda in A Lâmpada de Aladino
Contribuição de Sérgio Paulo Silva

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

"Artur Pastor"






Soube pelo Abrupto, onde aproveitei para surripiar mais algumas fotografias, que a Câmara Municipal da Nazaré tem desde o dia 22 em exposição na biblioteca municipal uma série de trabalhos do fotógrafo.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

"Ria de Aveiro"


"No velho pontão da Bestida, que as invernias todos os anos despedaçam, dir-se-ia que Portugal acaba. Portugal e a terra na sua solidez física, nos seus costumes mais vulgares, e até nalguns dos elementos mais primordiais da sua vida. É outro mundo, líquido, brumoso, feito de distância azul, isolado do continente por uma ria maravilhosa, paleta de mil cores, tão larga que cabe nela o Tejo, nos seus dois quilómetros de água tranquila e adormecida. Fecham-se atrás de nós, como sob o pano de uma ribalta, as terras ribeirinhas da Murtosa e de Bunheiro, entre pâmpanos virentes, muito tufados, milheirais extensos que ondeiam as suas bandeiras doiradas, pomares cerrados, onde os ramos já nos estendem os frutos maduros, corados de sol, que fendem a casca, pejados de sumo.
Uma fotosfera prateada envolve a ria que vem do Furadouro, lá longe, para nascente, recortada de canais, hérnias líquidas daquele ventre de água, extraordinàriamente fecundo que se desentranha em admiráveis espécies piscatórias que, por vezes, como a carnuda taínha, se vêem saltar à superfície cristalina, tão límpida que se enxerga o seu fundo doirado de areia, manchado duma verdura submarina, o moliço, com que a dez léguas em redor se adubam as leiras.
A visão da paisagem, na sua penumbra sobrenatural, ascende em sonho na visão extática de lirismo.
Não há uma cor violenta , naquela paleta aquática, mas tons, sobre tons, prateados e violetas, tão etéreos e fugitivos, que parecem pintados numa laca japonesa, pelo pincel dum Outamarco ou dum Fujita."

Artur Portela
foto. Zacarias da Mata

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

"Sail"





"Twenty years from now, you will be more disappointed by the things you didn't do than by the ones you did do. So throw off the bowlines. Sail away from the safe arbor. Catch the trade winds in your sails. Explore. Dream. Discover."
Mark Twain

sábado, 22 de novembro de 2008

"Magritte"


Ceci n'est pas un post...

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

"Crowhurst's Sad Story"

Em 1968, aproveitando a onda de entusiasmo pela circunavegação de Chichester, o Sunday Times organiza uma regata à volta do mundo,a solo, sem escalas e seguindo a rota dos Clippers."The Golden Globe Race" seria o grande desafio, o derradeiro teste para os grandes velejadores mundiais.
À partida apresentaram-se nove competidores, Robin Knox-Johnston, Bernard Moitessier, Chay Blith, John Ridgway, Loick Fougeron, Bill King, Alex Carozzo, Nigel Tetley e o "outsider" Donald Crowhurst.
A data da largada seria escolhida por cada um, entre 1 de Junho e 31 de Outubro, de maneira a passarem o Índico de verão. Knox-Johnston e Moitessier seriam os primeiros a partir, Blyth, sem experiência de vela, desiste após alguns dias. Ridgway, Fougeron, King e Carozzo não chegam ao Índico e Tetley segue no encalce dos dois primeiros fazendo boas médias.
Crowhurst, empresário à beira da falência e sem experiencia para tal empreitada, é o último a partir e na data limite. Parte desesperadamente em busca das 5000 Libras do prémio, endivida-se mais, penhora a propria casa. A glória e a resolução dos seus problemas monetários ou..
Parte atabalhoadamente, revelando alguém que não sabe para o que vai e um barco mal e insuficientemente preparado. Depois de alguns dias de navegação, Crowhurst segue lentamente rumo ao sul, com médias que nunca lhe permitirão ganhar. Perante isto, decide-se por aldrabar a organização, primeiro comunicando que fez 423 nm em 24h., depois dando posições que se revalariam uma fraude. Navega erráticamente pelo Atlântico sul, aportando na Argentina para consertos. Durante 150 dias não comunica via rádio, trabalha no diário de bordo de maneira que as suas posições na carta sejam coincidentes com a duração da viagem.
Na Argentina espera que os outros passem, Knox-Johnston chega a Inglaterra mas com um tempo lento, Moitessier abandona a regata e continua para mais uma volta ao mundo. Crowhurst sabe que não pode ser o primeiro, as suas cartas e diários de bordo seriam analisadas ao pormenor. Tetley tem grandes hipóteses de ganhar, mas ao saber que Crowhurst o segue de perto, dá tudo por tudo e afunda no Açores.
De repente, o "outsider" está, sem querer, na posição de vir a ser o vencedor e de se revelar o embuste.
Crowhurst cede, volta para trás, vagueia pelo oceano, escreve um longo missal de citações, palavras avulsas, pensamentos existênciais. Dez dias depois da última comunicação, o seu barco é encontrado sozinho no Mar dos Sargaços. Perante a perspectiva do regresso, escreve no seu diário, "It's finished.." e ao que se julga terá saltado borda fora.
Como apontamento, Robin Knox-Johnston que foi o único que terminou, doou o prémio á viúva de Crowhurst. Tetley nunca esqueceu a forma como perdeu a regata, enforcou-se três anos mais tarde.

"Cowes Classic Week"

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

"Torreira"





Fotografias da Torreira antiga, retiradas do jornal Autohoje.

"Golfinhos"

domingo, 16 de novembro de 2008

" Zacarias da Mata "









Há certas noites que a pesquisa leva-nos até estas maravilhas...

sábado, 15 de novembro de 2008

"Les Nuits"

Anda, prás bandas de lisboa, novela pitoresca que toda a gente adivinha o final. Não conhecia este texto, escrito em 1961, de grande actualidade.


" Pomposo,ponderado, primoroso,
Pacheco passeia pelo parque.
Pretende parecer paternal.
Procura, porém, prazeres proíbidos,
possuído por demónios pornográficos.
Persegue pequenas púberes
(possivelmente pianistas precoces?
professoras primárias potenciais?
provincianas pobres? plutocratas, porventura?
pulmonares predestinadas? princesas, por partida?
pragmatistas praticantes? protagonistas prévias?) ,
Propiciando presentes pacholas,
Pretenso purista, pseudopuritano,
prodigaliza pirolitos, «popcorn», pinhões;
pèrfidamente, provocante,
patenteia porcos postais parisienses.
Pestisca prazenteiro,
puxando pelas pratas,
pressurosamente pagando.
Propõe patinarem (pudera ! ).
Perturbado pelos pulos, pelo pagode,
Pacheco piora, perde placidez, prevarica:
precipita-se, pletórico, purpúreo, priápico
palpando pernas polpudas.
Pessoas presentes percebem perfeitamente-
pedem , pois , para prender Pacheco.
Perguntado por prestimosos populares,
por pais presumivelmente profanados,
por polícias prontificados,
por paisanas proficientes,
Pacheco protesta, prolixamente,
proclama protecções proeminentes
(permitindo pressupor previlégios) ,
promete peremptòriamente promoções.
Previdentemente, prova precedentes probos.
Populares, pais, polícias, paisanas
passam por parvos - porque pedem perdão,
Pacheco prossegue.
Protejamos, portanto, pueris premícias,
pessoalmente prevenido:
Prudência, pais portugueses!
Pelos parques perpassa,
pomposo, ponderado, primoroso,
Pacheco - perigo público."

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

"Beside the Seaside"



"Beside the Seaside"- Snapshots of British coastal life. 1880 -1950
Em exposição no National Maritime Museum até Abril de 2009

terça-feira, 11 de novembro de 2008

"Orcas at Sunset"

O fotógrafo já tinha nadado muitas vezes com grandes baleias e golfinhos, mas nunca com orcas, pelo que assim que colocou a máscara e o tubo começou a sentir-se nervoso. Mas valeu a pena, já que a sua foto - Orcas at Sunset ("Orcas ao Pôr do Sol", em português) - recebeu do mais prestigiado concurso de fotografia de vida selvagem a distinção Highly Commended, na categoria de Animais no seu Ambiente, e elogios do júri. A ponto de o Museu de História Natural, de Londres, a ter aproveitado para o seu merchandising, como calendários e posters. Além de integrar, durante vários meses, a exposição, desde ontem até Abril de 2009. E como foi obtida? Nuno Sá passou cinco horas a entrar e a sair das águas da ilha de São Miguel, nos Açores, com oito orcas - várias fêmeas e crias, e dois machos -, agarrando esta última imagem enquanto o céu ficava dourado. No dia seguinte, o grupo matou uma baleia."Assim que entrei na água, um dos machos começou a nadar na minha direcção, pelo que pensei que estava prestes a atacar-me. Andou à minha volta, a apenas um metro de distância. Olhámo- -nos nos olhos", conta Nuno Sá ao DN. "Sabia que tinha de ter cuidado, mas não senti qualquer tipo de agressividade da parte dele, apenas curiosidade", conclui feliz. - P.B.
fonte-DN

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

sábado, 1 de novembro de 2008