Chego a casa e a noite fria faz-me pôr mais dois ou três cavacos no borralho que se esvai. Atiço o lume e penso no fim inglório da árvore que vai entregando a alma ao criador.
Ela crepita, protesta, como se tivesse alguma coisa para dizer, até se resignar numa chama tão calma como foi a sua existência. Este carvalho, e os irmãos que bordejam um caminho fresco junto ao rio que passa cá por casa, sempre foram admirados e respeitados pelo porte, pela idade, pela nobreza e pelo gesto bonito de se passar à próxima geração um bonsai com cem ou duzentos anos.
Este, menos afortunado, nasceu e cresceu de braço dado com o rio, que o alimentava por um lado, que lhe matava a sede quando todo o resto já amarelava, mas que no seu lento processo erosivo, ia-lhe ditando o fim.
Como que atraiçoado pelo amigo de sempre, tombou de maduro e no seu lugar ficou um buraco centenário e a tristeza de ver um colosso destes vergar-se.
Na herdade do Mouchão, há dois tonéis mágicos que, aliados à mestria humana, fazem vinhos improváveis, madeiras exóticas a dar carácter a vinhos nacionais. Árvores provenientes sabe-se lá de onde, continuam a dar uma complexidade a um dos nossos embaixadores.
Não foi em vão que cairam, estão vivas.
Cada vez que olho para o barquinho, para o tabalho que está lá feito, mais respeito os artesãos que perpétuam o sonho dos homens, e já agora, o das árvores, se é que têm um.