quarta-feira, 6 de julho de 2011
"A Ria era deles"
Andavam por ali, às voltas, a paisagem era deles, tantas as vezes que por ali estavam, pertencia aos dois como um pertencia ao outro, estavam ali porque sim, a paisagem eram eles e confundiam-se com ela. Os matizes da Ria mudavam com os dias, mais ou menos solarengos, mais ou menos ventosos, como eles mudavam também, mas a presença dela sentia-se até nas suas ausências. Enamorados, pela Ria, pela beira dela iam ficando, em longas cumplicidades, a ver o dia ou a noite fugir, como se aquela paisagem fosse a casa deles, e era, amavam a Ria e amavam-se nela, misturavam-se nos canaviais, fundiam-se com os juncais, ouviam o vento sussurrante nos milheirais nas noites em que ficavam por ali, longe do mundo, ao deus dará, só pelo prazer de estar um com o outro, de viver o momento, de ver aquela massa de água escura no seu vai e vem constante.
Os silêncios da Ria eram os silêncios deles, umas vezes ternos como uma brisa de manhã de verão, outras como a calmaria antes da tempestade, eles e a Ria eram feitos de silêncios, de nuances, de olhares, de pormenores, de recantos que só eles conheciam.
A água no seu ir e vir embalava-os em longos bordos de carícias, abraçava-os, abraçavam-se com a água pelo meio, a água da Ria que era deles, ora fresca e revigorante, ora tépida e lânguida, ficavam por ali porque era o mundo deles, era ali que pertenciam e em que tudo fazia mais sentido.
Amavam-se na areia como em cama de dossel, alheados do mundo lá fora, com o vento como testemunha do amor deles pela paisagem, que era só deles.
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