sábado, 6 de dezembro de 2008
"A Pérola"
" A cidade ficava num amplo estuário, com os seus velhos edifícios caiados de amarelo agarrados à praia. Na praia viam-se os barcos azuis e brancos, vindos de Nayarit, que eram conservados de geração para geração com um espesso revestimento impermeável, como uma concha, cuja preparação era um segredo dos pescadores. Eram barcos esguios e graciosos, com a proa e a popa curvas e um barrote no meio, onde se cravava o mastro para fixar a pequena vela latina.
A areia da praia era amarela e orlada de um colar de conchas e algas. Os caranguejos borbulhavam e cuspiam do fundo dos seus esconderijos e poças, os lagostins pinchavam dentro e fora das exíguas moradas de calhaus e areia. O fundo do mar era rico de formas que rastejavam, nadavam, cresciam. Algas castanhas flutuavam nas correntes suaves, enguias verdes cruzavam-se com elas e pequenos cavalos marinhos embaraçavam-se-lhe nas hastes. O boto malhado, peixe venenoso, vivia no fundo, em camas felpudas de limos, e os coloridos caranguejos passavam por cima deles fugindo.
Os cães e os porcos famintos da cidade procuravam incansávelmente na praia qualquer peixito ou ave marinha que a maré cheia tivesse por ventura arrastado.
Era aínda muito cedo. Mas a miragem nublosa desaparecia. A atmosfera de bruma que engrandece algumas coisas e diminui outras pairava sobre o Golfo: todo o panorama era irreal e visão incerta: o mar e a terra tinham a claridade penetrante e nebulosidade de um sonho."
in A Pérola - John Steinbeck
fot. Candy Lopesino
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