Numa das paredes cá da casa, está pendurado um carvão, bem feito diga-se, de um senhor com bigodes à kaiser e que tem em rodapé uma quadrinha dedicada ao padrinho, coisa sem qualquer tipo de interesse. O quadro é engraçado pelas semelhanças com um registo fotográfico da época. É um familiar meu que um dia saiu de casa e, á semelhança de tantos outros, rumou ao Brasil em busca do ouro branco, do latex, que fazia a fortuna de alguns no início do século passado. Só falo dele porque cada vez que entro na sala, os bigodes impecáveis estão lá. Foi e não voltou, não sei se foi bem sucedido na sua quimera, se juntou uns trocos, se foi feliz, tirando o seu semblante brilhantemente retratado, nada sei do jovem emoldurado que me observa cada vez que estou a ver televisão. Sei que terá cortado todos os laços com a família, terá conseguido, casou com alguma índia, ía ao teatro em Manaus?
Falo do jovem com bigodes imperiais pela facilidade que alguns têm em largar tudo.
E, por falar em largar, tenho que referir a largada de grande nível do "Breeze" nas regatas do último fim-de-semana em Lisboa. Embora curta, foi de grande valia, apesar da tripulação pouco ou nada se conhecer. De boa memória a última parte, uma dupla de excelentes proas que nunca falharam uma cambadela com o balão, muito bom. Aqui o escriba alternou entre o "piano", qual Glenn Gould, a afinação da genoa e uma mãozinha nas alantas do spi. Grande serenidade a bordo, condizente com o dia, finalizado com um repasto muito agradável lá para os lados de Alcântara e dois cálices de Genebra que lembraram terras mais a norte.
Os meus agradecimentos aos armadores pela óptima jornada, venha a próxima.
Por momentos pareceu-me que o jovem da bigodaça irrepreensível me sorria, emoldurado, com uma quadrinha, dedicada ao padrinho e sem sentido nehum.